Uma pequenina, chamada Patrícia foi habituada a conhecer o discurso do pai pela voz distante de um telefone, foi habituada a conhecer o brilho de um olhar opaco por fotografias, e conhecer o real sentimento de partilha e carinho pelo envio de presentes e alguma qualidade de vida.
Via-o no máximo três vezes por ano, e era empolgante fazer a mala para visitar um país que não fosse Portugal!
França era para ela uma palavra que soava a uma dádiva, e cada vez que partia, o espírito dela voava tão alto que a fazia sonhar e desejar algo como: "Um dia eu vou emigrar como o Papá, vou ganhar muito dinheiro, e aquela estradinha estreita e cheia de curvas vai-se transformar numa estrada boa e vai fazer com que a nossa família fique toda junta e feliz no Natal!"
Não me apetece contar esta história porque estamos próximos do Natal, porque confesso que é uma época que não é do meu agrado, porque todo o Natal que passei com a minha família, a maior parte foi em conflito com o meu pai, isto porque não conheci um pai, não convivi com ele e ele não me viu crescer.
Isto tudo... não sei porquê, isto porque condenei sempre o meu pai, não o perdoei por ele ter partido, isto porque hoje estou prestes a tomar a decisão de emigrar... como o meu pai fez um dia... ele por mim, hoje, eu por eles...
Não tenho um marido com uma filha acabada de nascer nos braços, mas tenho uma família, tenho uma Daniela que é a coisa mais importante que Deus me colocou na minha vida, tenho um grande amor do meu coração ao qual não sei se estou preparada para quebrar ou suportar o sentimento de saudade e tenho uma carreira pela qual lutei muito.
O sonho da pequena Patrícia era ser Enfermeira, e pelas ausências e contratempos teve um pai que emigrou para lhe dar uma boa qualidade de vida. Um pai que hoje não sabe definir a Patrícia. Não sabe a cor preferida da Patrícia, não sabe qual foi a primeira palavra dela, não sabe quando foi o primeiro passo, ou como aprendeu a ler ou a escrever. Não sabe defender a personalidade ou teimosia dela, apenas criticar e julgar por ser uma criatura tão estranha e diferente do mundo dele. Porque nem ela, nem ele pertencem ao mesmo Mundo.
Ela passou a vida julgá-lo por ter sido um pai ausente, ele por ter sido uma filha ingrata, cruel e incompreensiva, ao qual ele só lhe queria oferecer uma vida melhor.
Ele deveria ter ficado ao lado dela ou ter partido, tal e qual como fez?
Era esse o destino, ou foi apenas uma decisão certa ou errada?
Ninguém sabe e a vida nunca vai responder a isso.
Vinte e quatro anos depois a pequena Patrícia crescer e lutou pelo seu sonho de ser Enfermeira, ao qual o seu país não lhe dá qualquer oportunidade lhe dar seguimento.
E agora?
Destino ou decisão?
Irá a pequena Patrícia partir, emigrar em pura ganância e deixar a mãe que nunca a largou em circunstância alguma, a Daniela, o amor, o pai que regressou, apenas pela carreira profissional?
E o julgamento e arrependimento futuro?
E as coisas e pessoas que deixa para trás?
E se fica?
E se parte?
De coração partido...
Um dia a Patrícia continuará contar a historinha dela..
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