sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Fada de Iusões




Quem é ela?
Ela não tinha aquele cansaço pela manhã. Aqueles olhos sem brilho e a pele moída.
Ela não se preocupava com os seus cabelos, porque eram belos de mais para serem tratados.
 
Ela não se preocupava com as horas nem com o tempo. Apenas dançava ao som da luz.
 
Ela era doce e amarga, e não distinguia a adversidade a das pessoas.
 
Ela não entendia porque os adultos não brincavam.
Ela tinha energia para mudar o mundo!
Mas o mundo modificou-a antes de tudo isso…
E agora, abre as mãos e estas estão geladas. Geladas de tanto ter corrido sem luvas…
Sente no corpo um cansaço de viver, como se alguém lhe tivesse roubado a alma!
Olha-se ao no reflexo da água, e a miragem turva diz-lhe que ela já não tem face.
Perdeu-se…
Essa fada das ilusões!
PatríciAntão

Cansada desta Febre Social


 
Assusta-me viver neste mundo, em escassez e sem qualidade.
Assusta-me ver as crianças que não sabem o que é brincar com as formigas ou se lavarem de lama.
Assusta-me correr descalça na praia, porque nem o chão da praia é seguro.
Assusta-me o reflexo de uma rua urbana, em que vejo os seres humanos privados de alma.
Assusta-me que a música é cada vez mais pesada. E a poesia cada vez mais extinta.
Assusta-me todas as atitudes de ódio e intolerância. A falsidade e a falta de bons amigos.
Assusta-me toda a projeção de futuro e toda a miragem do passado.
Assusta-me envelhecer e perceber que não tenho tempo para mais nada a não ser para trabalhar.
Assusta-me toda esta febre social, em que o exagero de sorrisos é um sinal de que ninguém sabe sorrir.
Assusta-me este cansaço, esta rotina de viver neste medo.
Assusta-me o meu reflexo de quando estou só e já não sei viver sem pressão.
Isto tudo assusta-me, mas habituo-me.
Porque faço parte disto- destes buracos por preencher, dos diálogos recalcados, e dos sorrisos obrigados.
Tenho saudades do enigma de quando era criança, pensando que quando fosse adulta iria ser feliz e realizar os meus sonhos.
Neste momento sinto que até o Paraíso precisa de morte, e que para nos tornarmos anjos, precisamos de nos tornar inexistentes.
Vivo numa catástrofe…
Sempre foram as catástrofes que me fascinaram.
A vibração do difícil.
Mas isto não é difícil… é absurdo de o viver diariamente.
É uma rotina insuportável.
Numa sociedade pútrida!  
PatríciAntão

Ama!

" Ama.
Lavar os dentes ao lado de quem amas.
Apalpar-lhe descaradamente o rabo.
Comer chocolates até te fartares.
Passar a noite a dizer asneiras.
Beijar sempre de língua. ...

Passar o dia a dizer asneiras.
Mandar o chefe bugiar.
Passar a vida a dizer asneiras.
Deixar declarações de amor escondidas pela casa.
Fazer o teu pai feliz.
Preguiçar regularmente.
Fazer a tua mãe feliz.
Atirar o despertador à parede periodicamente.
Fazer quem tu puderes feliz.
Dormir quinze ou vinte horas seguidas.
Pôr a mão de fora do vidro do carro.
Pintar o cabelo de azul ou de amarelo.
Pôr a cabeça de fora do vidro do carro.
Cantar no banho para todo o prédio ouvir.
Lamber a tampa dos iogurtes.
Correr que nem um louco na praia.
Falhar que nem um burro só porque tentas.
Praticar sexo oral com frequência.
Tentar que nem um burro só porque queres.
Mudar a decoração de casa num dia só.
Dançar quando estás feliz.
Passar horas só a cuidar de ti.
Dançar quando estás triste.
Dizer bem de quem amas.
Enfiar o dedo no nariz às escondidas.
Dizer bem de quem não amas.
Dançar enquanto estás vivo.
Guardar segredos inconfessáveis.
Experimentar posições sexuais improváveis.
Contar segredos inconfessáveis.
Masturbares-te sem qualquer culpa.
Ter segredos inconfessáveis.
Ver quanto dá o teu carro.
Dizer o que não se pode dizer.
Cagar assiduamente nas convenções sociais.
Sonhar com o que não pode acontecer.
O orgasmo sempre que puderes.
Coçar e ser coçado nas costas.
O gemido sempre que souberes.
Passar muitas horas a contar anedotas.
Adormecer todo torto no sofá.
Passar muitas horas a ouvir anedotas.
Rir que nem um desalmado.
Fazer um penteado estrambólico só porque te apetece mudar.
Rir por tudo e por nada.
Chorar a torto e a direito.
Rebolar na areia quando estás todo molhado.
Chorar porque também é um direito.
Abraçar o teu gato ou o teu cão.
Mandar a austeridade tomar no cu.
Beijar incansavelmente.
Não te levares minimamente a sério.
Dispensar quem te chateia.
Tocar um instrumento qualquer.
Perdoar quem é humano.
Desistir do que não te serve.
Lutar pelo direito à parvoíce.
Escrever um livro.
Dar prioridade ao prazer.
Ler um livro.
Nunca desistir de quem amas.
Aprender desvairadamente.
Fazer cadeirinha com quem amas.
Ensinar desvairadamente.
Perder a respiração pelo menos uma vez por dia.
Nascer pelo menos mais uma vez do que as vezes em que morreres.
Viver desvairadamente.
-Te."

Pedro Chagas Freitas
 

Natal, outras gentes, outro mundo


 
Natal tem sentimento!
Natal tem cor, tem brilho…
A sensibilidade está nos olhares…
Natal tem cheiro…
Natal tem formas!

O Natal parece outro Mundo.
Com outras gentes.
Com mais fome de sentir.
Com mais vontade de abraçar.

Natal é solidário.
Natal é Humano.
O Natal é alegre…

O Natal é saudade!
O Natal é família…

O Natal é triste…
Não consigo não chorar no Natal!

Não consigo não sentir vontade de abraçar aqueles que já partiram.
Aqueles que estão longe...
Ou aqueles que simplesmente saíram da nossa vida sem explicações.
Natal é reflexão.
Natal é quente…
Natal é amor!

Natal é solidão…
Natal é obrigação...
Natal é ilusão…

... De apenas mais um ano a passar…
PatríciAntão

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Onde está o Natal?


 
 
Ruas iluminadas, música de Natal, casacos compridos em correria com sacos na mão. As montras começam estar vazias, e os chocolates encontra-se caídos pelo chão dos supermercados.
Há dinheiro que circula, mas os olhares não se cruzam.
Onde está o Natal?
O que é o Natal para a sociedade atual?
 
PatríciAntão

"Quero ir para os braços da minha mãe"





 
Não, não sei a força que tive e que me mantém. Dia 19 de Agosto de 2012 deixei o Verão da minha Terra, deixei os braços da minha mãe, família, deixei um amor!
 
"É tão cinzenta" a Bélgica, "A saudade tamanha"
 
... "E o Verão nunca mais vem..."
 
"Quero ir para casa!"
 
"Trouxe um pouco de Terra, cheira a pinheiro e a serra!"
 
"Vim em paço de bala, com um diploma na mão"
 
"Deixei o meu amor na Terra!"
 
Faz tanto frio na Bélgica...
 
"Sou já memória e raiz!"
 
"Ninguém sai donde tem paz..."
 
Nunca vou conseguir deixar Portugal...
 
OBRIGADA PEDRO ABRUNHOSA
 
PatríciAntão

Hoje mudei os lençóis da minha cama!


   

     Foi dia de mudar os lençóis da cama onde dorme todos os dias. Naquela noite deitou-se como se fosse envolver-se num leito de magia. Havia entre o toque suave, um cheiro que a envolveu num passado muito distante.
    Lembrou-se do toque suave das mãos da mãe. Reviveu cada noite que adormecia na proteção do amor de um toque na sobrancelha que a abarcava para o conforto inexplicável. Era como se o toque da mãe a protegesse dos males do mundo e lhe dissesse que todos os medos eram imaginários.
    Abriu os olhos… era apenas um sonho! Mais um sonho longínquo em que a realidade presente se baseava exatamente no oposto.
    Transpirando o medo de não voltar sentir esta proteção, agarrou na almofada e num pequeno poro conseguiu tirar uma pena. Fê-la voar até ao candeeiro que iluminava uma pequena parte do sombrio quarto. E foi ai que percebeu o quão pesada se sentia.
    Eram as amarras da solidão, mas sobretudo das raízes que tinham crescido.
    Estava convicta de que estava lançada às feras deste mundo, e que apenas o toque e o cheiro de uns lençóis acabados de lavar a poderiam transportar para esse conforto…
… o conforto de proteção que todos os adultos que têm medo de deixar ser criança sentem!
PatríciAntão