terça-feira, 25 de novembro de 2014

Hoje

Hoje?
Hoje sinto-me como se tudo me faltasse.
Sinto-me como se eu fosse o chão sem céu.
Hoje, do que me conheço atormenta-me!
Uso de mim para mim, para ter consciência de mim, sem me aperceber que o único problema sou eu!
Hoje caí! Como um papel que embrulhou um rebuçado mau.  Daqueles que estão todos colados e sem sabor...
Hoje tenho a alma parecida com a morte dos nervos cerebrais!
Aquela alma necrosada que me apodrece lentamente todos os sentidos.
Tudo o que faço por mim, hoje conheço-o claramente: NADA!
Tudo quanto sonhei até hoje podia-o tê-lo sonhado o moço de fretes...
Tudo quanto amei, morreu!
Oh... nostalgia do paraíso perdido, porque insistes em me fazer de histórias de infância?
Meu Deus agasalhado de penas nocturnas, não me deixes a colcha húmida de lágrimas!
O Destino acabou-se como um manuscrito interrompido.
Hoje não tenho mais altos nem baixos! 
Hoje não tenho nada.
E consciência? Nem essa tenho ou quero vir procurar!
Serei a velha solteira, sem culpa ou remorsos daquilo que hoje sinto.
Toda a minha vida tive uma náusea do estômago que me invade os pulmões.
Porque hoje custa-me a respirar.
Hoje não encontro ar puro!
Hipocondríaca me sinto, tendo introduzidas no peito uma quantidade de doenças tristes no limiar da verdade.
A imortalidade das personagens que inventei em mim, presumida era o não ter vida apenas.
                                                                                                                                           PatríciAntão

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Hoje lembrei-me de mim

             Lembrei-me de acender uma vela. Olhei para ela, até os meus olhos obrigarem a desligar-me do encadeamento da luz!
É isso mesmo… a teimosia em nos desligarmos da luz!
Fechar os olhos para aquilo que realmente importa nesta vida, é um ato humano cada vez mais comum.
Todas as manhãs pomos aquele perfume do qual não nos desprendemos há anos. Todas as vezes que queremos comprar uma roupa nova e queremos mudar, acabamos por comprar os padrões e cores aos quais estamos habituados.
E de todas as vezes que tentamos dar-nos a pessoas só para ver no que isso “irá dar” acabamos sozinhos, rodeados de pensamentos de auto-culpa pelo facto de não conseguirmos exercer em nós uma pressão, de forma a moldar a nossa atitude para nos relacionarmos com pessoas muito diferentes de nós. E quando falo em pessoas diferentes, falo em incompatibilidade. Pois as que mais amo são completamente diferentes de mim. Os seus defeitos e virtudes encaixam na perfeição com os meus, de forma a que flua uma espécie de energia, fazendo com que haja aceitação, e sobretudo sentimento positivo pelos defeitos dos outros.
                A vela é algo que me transmite pureza. A luz, o calor, a harmonia, a sinceridade da serenidade que ela transmite.
Eu sou como um copo debaixo de uma torneira de água. Se esta estiver temperada e na pressão certa, a água corre de forma correcta para dentro do copo, sem causar estragos nem extravasar. Se, pelo contrário a água estiver a queimar e sair com a pressão máxima da torneira, o copo fica abalável, não suporta essa capacidade de pressão e temperatura, pode cair e até mesmo estalar…
Sim, para isso acontecer já tem de ser um copo muito frágil e sensível…
É ao que chamamos o temperamento de “tempestade num copo de água”!
Mas digamos que a vela também só tem uma boa actividade de serenidade se houver harmonia com o meio ambiente.
É isso mesmo… nós somos resultantes de todo o meio ambiente, de tudo e todos que nos rodeia.
Como posso eu falar de futebol com alguém que detesta futebol?
Como podem as pessoas entender as minhas fragilidades se desconhecem a teoria sobre a pressão a que eu estou sujeita?
Como podem as pessoas julgarem os outros por aquilo que só elas próprias os são?
Será que um dia as pessoas vão parar e perceber que já não têm tempo para elas mesmas, perdendo esse tempo todo apontar o dedo, ou direccionar os olhares a quem não lhe pertence?
Eu estou neste mundo, mas eu não faço parte do mundo. Só quem é capaz de navegar em pensamentos, ideias, filosofia, sentimento idênticos aos meus é que vai conseguir interpretar verdadeiramente aquilo que eu sou e o porquê de cada uma das minhas atitudes.
Só quem nos sabe ler é digno de nos conhecer.
Só quem é digno de interpretar aquilo que uma vela nos transmite é que é merecedor de receber a luz e sabedoria que ela oferece…
Porque cuidado…
Ela pode queimar!
Ou simplesmente apagar-se…
                                                                                                                           PatríciAntão