sábado, 23 de novembro de 2013

Momento de Esplanada


 
Pego num copo de refrigerante, sentada numa esplanada e bebo. E o momento é de tal forma mágico que pareço beber um cálice da vida! Um cálice em que qualquer coisa cai, e eu, observando a pinga invertida no meu copo interiorizo em mim mesma como tudo na vida é breve.
Tenho sede! E o líquido fresco corre na minha garganta como se de uma droga se tratasse… sacia-me e gera um momento de prazer que fico abatida quando algo interrompe o meu momento de solidão e sede!
É como em cada momento da vida… todos aqueles momentos em que não se cria expectativa são os que correm melhor.
Quando temos sede da vida é quando a solidão e um simples prazer sabem bem.
As interrupções, as quedas, os barulhos de fundo temos de os observar como uma gota num copo de refrigerante.
Saciar a cada momento o cheiro da pele da nossa cara metade, o riso dos nossos amigos, o sabor de um bom café, ou simplesmente um momento de solidão numa esplanada perdida…
É isto o que a vida tem para nos dar… aquilo que estamos dispostos a colher!
PatríciAntão

Sindrome de Emigrante Portugues!


 
Quando estava na minha pequena e humilde terrinha portuguesa questionava a mim mesma o porquê de quase todos os emigrantes serem “chatos” e darem valor a coisas “ridículas”, quando eram eles que tinham tudo, pois viviam no mundo das grandes dimensões!
Falavam num tom, como se nada tivessem, e que Portugal e as pequenas coisas fossem o melhor que eles tinham na vida, sendo então o pouco tempo dos momentos de férias em que eles se sentiam felizes e concretizados.
Do pão quente, do peixe, da carne ou das castanhas e muita outra fruta que eram deliciosos! Eram factos que a mim me faziam torcer os olhos, fazer cara feia e dizer: “Por favor não exagerem, porque os bens essenciais devem ser iguais no mundo inteiro!”
Na época de Verão falavam de um Sol especial e único, chamado o “Sol de Portugal”. Mais uma vez fazia cara feia, expelia todo o meu ar de forma brusca pela minha boca e pensava: “Sol de Portugal… quem me dera agora a mim o Sol do Sul de França ou a chuva de Londres... Falam por falar!”
Era tudo muito, mas mesmo muito irritante e difícil de aceitar este tipo de comparações de forma justa e racional. Achava que eles só diziam isso aos “Portugueses” para serem simpáticos ou algo do género… nunca percebia muito bem.
E então quando via um carro com uma bandeira enorme de “PORTUGAL”!!  Aí instalava-se a minha grande problemática de não conseguir aceitar este exagero provido do emigrante Português, achando-o ridículo, rebaixando-se a pormenores que não interessavam mesmo a ninguém com algum bom senso…
Hoje… hoje estou prestes não só aceitar o Síndrome de Emigrante como também adiro desde já algum tempo costumes ou determinadas frases que antes achava ridículo!
Ainda não tenho nenhum carro com matrícula belga com uma bandeira portuguesa atrás (porque não tenho carro), mas quando passa um carro identificado como português só me dá vontade de lhe acenar como se da minha família se tratasse.
Cada vez que vou ao supermercado e não encontro peixe ou carne com qualidade não me lembro só dos pratos saborosos de Portugal, como a suculenta comida que cada vez que vou por breves dias a Portugal digo à mesa: “Isto sim é comido de verdade!” ,comendo com um prazer que as pessoas devem achar que eu cá passo fome para poupar. Mas a verdade é que passo fome de “comida boa”, e isso complica-se quando alguém adora cozinhar e tem de andar à procura de bacalhau ou de bens alimentares portugueses como se de um achado se tratasse.
O cheiro… é incrível que cada vez que o meu avião aterra em Portugal, eu sinto um cheirinho bom que faz com que perca todos os meus sentidos por momentos, e sentindo-me de imediato viva e com força para ganhar 100 anos de vida!
O ar de Portugal neste momento dá-me energia sobretudo para ser feliz e dar valor a coisas como a Terra molhada, o cheiro a seco, o calor do nosso Sol, o sal do nosso Mar, a areia das nossas praias, o cheiro e o som do campo, e até o frio do Norte que me obriga a sentar-me à frente da lareira, fazendo uma torrada que só em Portugal sabe daquele jeitinho. Antes era apenas “mais uma torrada”, hoje é um momento de prazer.
É ridículo?
Talvez… Mas só quem conhece o sabor do café português é que desconhece o que realmente é bom… Porque a primeira vez que tomei um café que não fosse português, a vontade era cuspi-lo perguntando-me em bom português que raio era aquela coisa!
Só quem sente a ausência desta qualidade de vida é que vai entender as minhas palavras.
Só quem se aproxima do Natal e não sabe o que é poder ir á rua e fazer a árvore de Natal Natural poder ouvir as pessoas falar alto e abraçar os que amamos é que dá valor a estes pequenos grandes presente de Natal…
Regresso ao dia em que vim para Bruxelas e comecei trabalhar, e quase todas as pessoas ficavam incrédulas por eu estar sempre a sorri!
 … Hoje passado um ano e quatro meses percebo que aqui as pessoas não sorriem da alma e eu sorrio cada vez menos.
Não posso dizer que sou infeliz. Mas não sou feliz como queria.
Hoje queria poder ter o emprego que tenho aqui, no meu Portugal… e isso senhor Pai Natal, seria o milagre das prendas do mundo encantado…
Como te amo Portugal…
“AMO-TE PORTUGAL” “Que horror, pensava eu, como se pode amar um país?”
Hoje interiorizo a síndrome de emigrante, e tenho muitos tiques, não só no sotaque, mas principalmente no meu coração…
Esse, estará sempre bem longe daqui…
“Até breve” …
"Minha gente" ...
PatríciAntão