domingo, 23 de agosto de 2015

Ninguém!

    Ninguém é de ninguém.
    Ninguém nem nada me pertence. Muito menos o reflexo do pôr do sol no espelho dos meus olhos.   Já me iludi, já me desiludi muito e já cai vezes de mais por pessoas que não merecem o meu sorriso.  Já dei a mão a pessoas que hoje me vêm como um estorvo na vida... e neste momento, para além de saber xapinhar na água que sei que não é minha também sei magoar e deixar para trás aquilo que não merece o tacto das minhas mãos nem o bater do meu coração... posso vir passar a ser negligente com a vida mas vou vestir esta capa contra os espinhos que tantam cravar no meu coração.
 
Patrícia Antão



"Farta disto!"

    Porque há dias que nos apetece mudar de vida. Largar tudo e transformarmo-nos noutra pessoa. Numa pessoa que não se importa com mais nada para além dela mesma... para quê se somos invisíveis para aqueles de quem mais esperamos? Para quê dar se só recebemos desilusão e estaladas atrás de um pontapé? Para quê tentar ser melhor se são os piores que levam o bom desta treta chamada vida?

Patrícia Antão

terça-feira, 25 de novembro de 2014

Hoje

Hoje?
Hoje sinto-me como se tudo me faltasse.
Sinto-me como se eu fosse o chão sem céu.
Hoje, do que me conheço atormenta-me!
Uso de mim para mim, para ter consciência de mim, sem me aperceber que o único problema sou eu!
Hoje caí! Como um papel que embrulhou um rebuçado mau.  Daqueles que estão todos colados e sem sabor...
Hoje tenho a alma parecida com a morte dos nervos cerebrais!
Aquela alma necrosada que me apodrece lentamente todos os sentidos.
Tudo o que faço por mim, hoje conheço-o claramente: NADA!
Tudo quanto sonhei até hoje podia-o tê-lo sonhado o moço de fretes...
Tudo quanto amei, morreu!
Oh... nostalgia do paraíso perdido, porque insistes em me fazer de histórias de infância?
Meu Deus agasalhado de penas nocturnas, não me deixes a colcha húmida de lágrimas!
O Destino acabou-se como um manuscrito interrompido.
Hoje não tenho mais altos nem baixos! 
Hoje não tenho nada.
E consciência? Nem essa tenho ou quero vir procurar!
Serei a velha solteira, sem culpa ou remorsos daquilo que hoje sinto.
Toda a minha vida tive uma náusea do estômago que me invade os pulmões.
Porque hoje custa-me a respirar.
Hoje não encontro ar puro!
Hipocondríaca me sinto, tendo introduzidas no peito uma quantidade de doenças tristes no limiar da verdade.
A imortalidade das personagens que inventei em mim, presumida era o não ter vida apenas.
                                                                                                                                           PatríciAntão

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Hoje lembrei-me de mim

             Lembrei-me de acender uma vela. Olhei para ela, até os meus olhos obrigarem a desligar-me do encadeamento da luz!
É isso mesmo… a teimosia em nos desligarmos da luz!
Fechar os olhos para aquilo que realmente importa nesta vida, é um ato humano cada vez mais comum.
Todas as manhãs pomos aquele perfume do qual não nos desprendemos há anos. Todas as vezes que queremos comprar uma roupa nova e queremos mudar, acabamos por comprar os padrões e cores aos quais estamos habituados.
E de todas as vezes que tentamos dar-nos a pessoas só para ver no que isso “irá dar” acabamos sozinhos, rodeados de pensamentos de auto-culpa pelo facto de não conseguirmos exercer em nós uma pressão, de forma a moldar a nossa atitude para nos relacionarmos com pessoas muito diferentes de nós. E quando falo em pessoas diferentes, falo em incompatibilidade. Pois as que mais amo são completamente diferentes de mim. Os seus defeitos e virtudes encaixam na perfeição com os meus, de forma a que flua uma espécie de energia, fazendo com que haja aceitação, e sobretudo sentimento positivo pelos defeitos dos outros.
                A vela é algo que me transmite pureza. A luz, o calor, a harmonia, a sinceridade da serenidade que ela transmite.
Eu sou como um copo debaixo de uma torneira de água. Se esta estiver temperada e na pressão certa, a água corre de forma correcta para dentro do copo, sem causar estragos nem extravasar. Se, pelo contrário a água estiver a queimar e sair com a pressão máxima da torneira, o copo fica abalável, não suporta essa capacidade de pressão e temperatura, pode cair e até mesmo estalar…
Sim, para isso acontecer já tem de ser um copo muito frágil e sensível…
É ao que chamamos o temperamento de “tempestade num copo de água”!
Mas digamos que a vela também só tem uma boa actividade de serenidade se houver harmonia com o meio ambiente.
É isso mesmo… nós somos resultantes de todo o meio ambiente, de tudo e todos que nos rodeia.
Como posso eu falar de futebol com alguém que detesta futebol?
Como podem as pessoas entender as minhas fragilidades se desconhecem a teoria sobre a pressão a que eu estou sujeita?
Como podem as pessoas julgarem os outros por aquilo que só elas próprias os são?
Será que um dia as pessoas vão parar e perceber que já não têm tempo para elas mesmas, perdendo esse tempo todo apontar o dedo, ou direccionar os olhares a quem não lhe pertence?
Eu estou neste mundo, mas eu não faço parte do mundo. Só quem é capaz de navegar em pensamentos, ideias, filosofia, sentimento idênticos aos meus é que vai conseguir interpretar verdadeiramente aquilo que eu sou e o porquê de cada uma das minhas atitudes.
Só quem nos sabe ler é digno de nos conhecer.
Só quem é digno de interpretar aquilo que uma vela nos transmite é que é merecedor de receber a luz e sabedoria que ela oferece…
Porque cuidado…
Ela pode queimar!
Ou simplesmente apagar-se…
                                                                                                                           PatríciAntão

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Primeira Página do Jornal!


 
Primeira página do jornal, primeira notícia das redes sociais, abertura de noticiário da televisão: "O Mundo está perdido!"...
Uns matam, outros matam-se...
Questiono-me se, os  que diziam há umas décadas que o Mundo iria acabar em 2000, não teriam razão e plena consciência de que isto iria mesmo acontecer.
Os valores transformaram-se radicalmente, e após várias tentativas pessoais de tentar perceber o porquê, de todo o mundo em que vivo estar sofrer constante metamorfose de atitude, deparo-me com a triste realidade que eu já não pertenço aqui!
Não vou pegar numa arma e tentar matar um aglomerado de pessoas!
Não vou agarrar numa corda e matar-me…
Mas também não me quero adaptar, porque isso seria aceitar esta triste sociedade.
Pareço uma velha retrógrada, falar de gerações e valores e isso faz-me lembrar a casmurra da minha avó que teima em me casar só porque namoro, ou usar o preto o resto da vida porque o meu coração está de luto!
Não, não se trata de valores pessoais! Tratam-se sim de valores sociais que transformam as paredes do planeta Terra, em que eu me insiro e tento a toda a força encontrar uma janela para respirar!
Vejamos que a definição de amizade, amor, respeito, solidariedade, etc, modificou de tal forma, que eu e quem pensa como eu, somos vistas como estranhas criaturas que não se baseiam no bom senso, e a loucura nos leva à obsessão por querer modificar os sentimentos e atitudes de forma a que eles se adaptem ao verdadeiro sentido que estes sentimentos ou valores regem!
Não se ama um filho: compra-se um filho, paga-se para poder ver um filho feliz!
Não se ama um namorado: tem-se interesse de forma a ter comportamentos obsessivos para contrariar os envolventes e para provar algo à sociedade!
Não se ama um avô: deposita-se o avô num lar de luxo, e isso sim, será a melhor condição de amor que se pode ter por ele!
Não há tempo, mas também não há vontade!!!
Alguém que grite a este Mundo que estamos caminhar pelo atalho errado?
Que assim não vamos chegar a lado nenhum?
Que a crise é uma desculpa para andarmos deprimidos e contrariados com a vida e sentimentos?
Que se nós nos acomodarmos o sentido desta socidade vai-se modificando e seguindo um rumo cada vez mais negro?!
Sejamos prudentes, sejamos ativistas, de forma a querer e fazer algo por nós e pelas gerações vindouras…
“Vou ali matar o meu vizinho e já venho!”
“Vou ali fumar uma ganza antes de ir para o trabalho para que este seja mais produtivo!”
“Vou ali escrever uma carta de suicídio porque hoje me apetece!”
“Vou ficar por aqui, porque não tenho dinheiro, não tenho expectativas, não tenho motivação!”´
“Vou ficar parado porque não vou mudar nada!”
O que fazer? Não sei…
Mas algo é mais que nada!!
PatríciAntão

sábado, 17 de maio de 2014

Os medos dos Fins

Quando a pétala cai de uma flor.
 
Quando o primeiro cabelo branco surge.
 
Quando achamos e sentimos que o fim está próximo…
O nosso coração se amarrota de tal forma que surge uma vontade enorme de uma fuga imediata para outra vida sem tempo.
Mas o que é isto de Fim?
Quem sabe o que é o Fim?
Uma lágrima que cai na última frase daquele livro que tanto gostávamos...
A despedida daquele ente que tanto amávamos.
Um sítio, alguém ou algo… O Ser Humano nunca está pronto para perder aquilo que o faz sentir bem e feliz.
Por muito que sejamos livres, e cresçamos com a constante mudança, não somos auto-suficientes para o que é brusco.
Podemos ter a força de vontade de querer mudar a cor dos nossos olhos, mas se acharmos que eles não vão ser nunca mais os mesmos, preferimos mergulhar na nostalgia do constante e abrigo seguro.
É por isso que quando sofremos por amor deixamos de acreditar nele. Não queremos tão simplesmente um novo amor.
Quando sofremos por amizade, não queremos jamais confiar no próximo, e achamos que somos demasiado vividos e velhos para iniciar a construir uma nova amizade.
Mas nunca é tarde para iniciar o começo da construção de uma nova ponto das nossas emoções.
O rio são os medos.
Os medos que nós inventamos dentro de nós.
O medo do fim, o medo de um novo inicio…

segunda-feira, 31 de março de 2014

Tempo


 
Porque o tempo tem direito de me tirar tudo… Eu não posso dizer sim ou não, tenho de aceitar e calar.

Hoje o relógio roubou-me uma hora e eu fiquei olhar para o tempo e fiquei apática…
Apática porque o Inverno roubou-me a alegria da Primavera! Pior que isso… a noite tirou-me os sonhos.
Não quero nem consigo entender como nós nos deixamos roubar…
Pelo tempo, ou pelo cinza da chuva.
Pela má energia de quem encontraste no café…
Deixo-me roubar por um diálogo negativo…
Mas também me deixo levar pelo calor do Sol…
Preciso de brilho do sol, e da gente que também se deixa levar e perde-se no tempo!
PatríciAntão
 

segunda-feira, 24 de março de 2014

Seres Ausentes

Cheira-me a Sol escondido, a estrelas queimadas, a chuva envergonhada.
Cheira-me a pessoas desesperadas, a almas perdidas… cheira-me a corpos escondidos, e a cérebros baralhados.
Cheira-me a amores proibidos, a sabores negados e a aromas abafados.
As pessoas andam de mãos dadas com os medos, e tropeçam nos sonhos negados por seres demasiado ambiciados!
Os olhos abdicam-se de sensibilidade, e os lábios esquecem-se de beijos apaixonados.
As pernas andam pela obrigação da rotina, e os cabelos, esses andam da beleza envergonhados!
O coração bate fraco, e as veias débeis não sentem a corrente da energia da felicidade.
Não existe adrenalina de viver, não existem meios de sentir.
Seres andantes, máquinas funcionantes!
Para que querem vocês serem chamados de seres humanos?
A boca serve para comer, já nem considera saborear.
O coração serve para exercer, o medo para expectar…
 
… E  o sonho? … Esse, já só serve para dormir. Dormir da rotina cansada em que o único abrigo do pesadelo é pensar que os olhos vão-se agora deste dia fechar.
 
PatríciAntão

sexta-feira, 7 de março de 2014

"Nós nunca
nos realizamos.
Somos
 dois abismos - um poço
 fitando o céu."
Fernando Pessoa

Minha Boca


 
Toco no canto da minha boca. Toco com um dedo no bordo da minha boca, desenhando-a como se saísse da minha mão e do meu inconsciente. Como se visse e sentisse a minha mão tocar na minha boca pela primeira vez na vida. Basta agora fechar os meus olhos e desfazer tudo, para fazer a mesma coisa com os meus olhos e com o meu nariz…
Sinto todos os contornos na minha imagem e questiono-me que o tempo passa sem me conhecer.
Não temos tempo para nós mesmos! Aliás… assusta-nos o facto de termos tempo para nós. Para nos olharmos, nos questionarmos, nos procurarmos.
Acordamos nas rotinas das manhãs procurando a nossa felicidade nos outros!
Mas hoje a boca escolhida é a minha, entre todas as bocas. Escolhida por mim, com vontade de me amar, com soberana liberdade…
Não me procuro compreender. Isso é demasiado assustador! Apenas coincidiu quando percebi que tinha uma pequena ferida na boca!
Quero começar-me olhar-me mais de perto, caso contrário lutarei sem vontade.
… Porque não posso lutar pelos outros, sem antes lutar por mim!
PatríciAntão

domingo, 26 de janeiro de 2014

Prazer... de "Sonhar"!


 
Acordei com esta frase a bater forte em cada processo de irrigação do meu cérebro: PARA DE SONHAR, COMEÇA A VIVER!
Fora da lógica de pensamento, naveguei e conclui que eu não consigo viver sem sonhar. É a minha imaginação que me leva tomar qualquer atitude, e de atitudes se constrói o dito viver.
Quando falo em sonhos, as pessoas devem achar que o meu psíquico se baseia num conto de fadas, onde jamais pousarei os pés no racional da verdadeira realidade. Não… quando falo de sonhos, falo nas metas, nos objetivos, na sensibilidade que possuo para vivenciar os momentos.
Morro de tédio quando me sinto sem imaginação, e eu não sei viver no tédio.
           Preciso de uma janela aberta para abrir os braços e voar à minha maneira, preciso de uma brisa fresca para que não me abafe na rotina. Com tédio eu não sei nem sequer respirar.
Preciso de me inspirar ao lamber uma tampa de iogurte, preciso de me sentir mulher com o suor de um lençol, preciso de me sentir livre com um beijo roubado, onde o salto no vazio é uma das sensações e sonhos mais presentes do meu dia-a-dia. Aquele segredo confessado, o fim do limite faz com que caminhe pelo proibido e isso fascina-me: quebrar regras faz-me sentir capaz!
Pelo inconsciente, por uma parede mal pintada, pelo dar uma mão a quem amo, pelo chorar por quem já não está mais, pela respiração desgovernada, por me sentir uma mulher amada!
Quando falo de sonhos não falo em olhos fechados, falo no sentir na pele uma dor diferente, um prazer ainda não distinguido.
Quando falo de sonhos, falo do poema mal encaixado, falo da alma e da ternura que me invadem o coração, quando vem o inesperado. Falo do instante, da minha loucura, da existência do ser humano no mundo, de quando acredito na minha própria eternidade. Sonho é um abraço, são lágrimas, é riso e superação. Cresço com os sonhos, e neles torno-me uma adulta cada vez mais diluída.
          Não vás pelos sonhos, vive pelos sonhos, sonha a viver: não vás porque o vizinho foi, vai porque te apetece agora!  Vai pelo gato ou voa pelo pássaro, imagina letras e canta as tuas canções. Caminha pela montanha ou pelo céu.
O importante é estares bem acordado, para sentires todas as falhas e conquistas do teu sonho.
Vai pelo romance, vai pelo gozo do prazer, mas vai…
            Cria momentos, pelo mundo fora… sonha, vive, não importa… Mas vai…
Pelos teus sonhos, pela tua vida!
PatríciAntão

Pare de Sonhar... Comece a viver.... VEJAM ESTE FILME

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Meu Nome

 
Faz frio, e retiro o branco da cortina de frente dos meus olhos, quando me espanto com um raio de Sol. Namoro as montanhas distantes, e os meus medos são de imediato transformados em coragem, percebendo que até então estava errada em relação ao Mundo. E o Mundo em relação a mim.
Escondi sempre em mim a brisa de gelo que perseverava no fundo dos meus olhos, e que nunca estalou, nem mesmo com o alento  do sal de todas as minhas lágrimas.
Para quê ficar forte agora, se todos os campos de fogo já tinham até hoje derretido a fronteira dos meus limites?
Dentro de todas as minhas limitações psíquicas ou físicas todos se riram do meu absurdo nome, e hoje que me começam ver um pouco como gente, eu rio-me para mim mesma, tentado perceber o quão limitada é a gente que me rodeia, por jamais se ter usado me conhecer, quanto mais, usar a inteligência de me compreender.
Prefiro assim, fazer com que todos achem que não passo disto, que nada mais sei fazer, para um dia o Mundo surpreender.
Sei que um dia muita gente ainda vai saber escrever o meu nome.
As estrelas vão iluminar caminhos obscuros. Mas a mim, só chegará quem muito pouco entender de lógica psíquica.
Para muitos estaria bem entre quatro paredes brancas e químicos que me acalmassem os ânimos. Mas a esses seres pensantes, dou-lhes o ânimo de que se há algo que me pode acalmar a alma, é o sentido de loucura.
Não suporto aquele tipo de gente que o único sentimento é pena, pois não têm capacidade para perceber que os tesouros naufragados na baía são os mais valiosos.
Uma chama se acende, quando percebem que afinal meu nome não é aquele que está escrito nas paredes.
Porque para estar lá, é preciso que eu autorize…
Que autorize este Mundo conhecer-me!
PatríciAntão

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Avô Abel


 
Avô Abel
Hoje questiono-me porque estou eu tão longe, sem sequer ter a oportunidade de te presentear e homenagear um último adeus. Só Deus sabe a dor que estou sentir neste momento, estar aqui sozinha sem poder abraçar o meu pai, os meus tios e resto da família, e sobretudo dizer-te “Até já” e dar-te um último beijo
Hoje partiste: o único avô que já tinha nesta vida. O meu herói, o meu poeta, o meu humorista, o meu artista. Eras o rei de Genísio, o que dava sentido a essa aldeia e família. Eras dos mais estimados, e amados. Eras tu que levavas por gestos e atos todas as formas de amor e saber estar na vida. A tua forte personalidade foi vincada, quando venceste com todas as forças contra tantos problemas de saúde que eu achava que eram impossíveis de serem ultrapassados durante tanto tempo. Provaste então ser o vencedor e guerreiro que eu sempre soube que eras. Pois foste tu que me ensinaste que nesta vida não podemos desistir do que somos e do que queremos. Chamaram-te tantas vezes teimoso, e eu vendo muitos dos meus atos espelhados em muito do que me transmitiste, sempre tive orgulho de dizer que era neta do “ti Abel”.
Recordo quando ia contigo para as feiras de artesanato e dizia com um sorriso babado, “sim, é o meu avô que faz!”, recordo os teus poemas, as tuas histórias contadas à lareira, das tuas inigualáveis mãos de artista que moldavam a madeira com amor. Os teus olhos eram sempre atentos, e tu inteligente e sábio ofereceste-me tanto nesta vida!  Não foram apenas os conselhos de avô, os sorrisos, as histórias ou os sermões bem dados, foi o ensinamento de um “saber ser” que ninguém me o vai tirar.
Um dia, se tiver netos o teu nome vai ser falado, as tuas histórias serão contadas, a tua fotografia mostrada e a tua arte revelada.
Tiveste sensibilidade e humor até ao último abraço que me deste: de lágrimas a escorrer-te pela cara, sempre unido aos netos disseste-me: “Vai, e vai comer a merenda antes de te ires embora, porque sempre foste a mais ruim para comer!”. Hoje posso prometer-te que já não sou a mais ruim para comer, e que vou sentir muitas saudades das merendas que comemos juntos.
Acalma-me a dor saber que te despediste de nós tranquilo e sempre lúcido, mas eu ainda tinha tanto para te dizer, para te mostrar, para viver contigo…
Eras e és das pessoas mais importantes da minha vida. Não és apenas o meu avô, és o nosso grande Pai, o nosso grande sábio, e vai-se falar sempre no teu nome com enorme orgulho.
Tantas palavras que tinha neste momento para dizer…. Mas preciso de silêncio para acreditar e aceitar avô.
Saudades sem fim…

Porque tu nunca terás um fim. O meu amor por ti é eterno.

Até já Avô Abel                                                                 13-01-2014

Protege-nos e guia-nos na Luz, estejas onde estiveres!
A tua neta, com dor e saudade
Patrícia Susana Martins ANTÃO

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Fada de Iusões




Quem é ela?
Ela não tinha aquele cansaço pela manhã. Aqueles olhos sem brilho e a pele moída.
Ela não se preocupava com os seus cabelos, porque eram belos de mais para serem tratados.
 
Ela não se preocupava com as horas nem com o tempo. Apenas dançava ao som da luz.
 
Ela era doce e amarga, e não distinguia a adversidade a das pessoas.
 
Ela não entendia porque os adultos não brincavam.
Ela tinha energia para mudar o mundo!
Mas o mundo modificou-a antes de tudo isso…
E agora, abre as mãos e estas estão geladas. Geladas de tanto ter corrido sem luvas…
Sente no corpo um cansaço de viver, como se alguém lhe tivesse roubado a alma!
Olha-se ao no reflexo da água, e a miragem turva diz-lhe que ela já não tem face.
Perdeu-se…
Essa fada das ilusões!
PatríciAntão

Cansada desta Febre Social


 
Assusta-me viver neste mundo, em escassez e sem qualidade.
Assusta-me ver as crianças que não sabem o que é brincar com as formigas ou se lavarem de lama.
Assusta-me correr descalça na praia, porque nem o chão da praia é seguro.
Assusta-me o reflexo de uma rua urbana, em que vejo os seres humanos privados de alma.
Assusta-me que a música é cada vez mais pesada. E a poesia cada vez mais extinta.
Assusta-me todas as atitudes de ódio e intolerância. A falsidade e a falta de bons amigos.
Assusta-me toda a projeção de futuro e toda a miragem do passado.
Assusta-me envelhecer e perceber que não tenho tempo para mais nada a não ser para trabalhar.
Assusta-me toda esta febre social, em que o exagero de sorrisos é um sinal de que ninguém sabe sorrir.
Assusta-me este cansaço, esta rotina de viver neste medo.
Assusta-me o meu reflexo de quando estou só e já não sei viver sem pressão.
Isto tudo assusta-me, mas habituo-me.
Porque faço parte disto- destes buracos por preencher, dos diálogos recalcados, e dos sorrisos obrigados.
Tenho saudades do enigma de quando era criança, pensando que quando fosse adulta iria ser feliz e realizar os meus sonhos.
Neste momento sinto que até o Paraíso precisa de morte, e que para nos tornarmos anjos, precisamos de nos tornar inexistentes.
Vivo numa catástrofe…
Sempre foram as catástrofes que me fascinaram.
A vibração do difícil.
Mas isto não é difícil… é absurdo de o viver diariamente.
É uma rotina insuportável.
Numa sociedade pútrida!  
PatríciAntão

Ama!

" Ama.
Lavar os dentes ao lado de quem amas.
Apalpar-lhe descaradamente o rabo.
Comer chocolates até te fartares.
Passar a noite a dizer asneiras.
Beijar sempre de língua. ...

Passar o dia a dizer asneiras.
Mandar o chefe bugiar.
Passar a vida a dizer asneiras.
Deixar declarações de amor escondidas pela casa.
Fazer o teu pai feliz.
Preguiçar regularmente.
Fazer a tua mãe feliz.
Atirar o despertador à parede periodicamente.
Fazer quem tu puderes feliz.
Dormir quinze ou vinte horas seguidas.
Pôr a mão de fora do vidro do carro.
Pintar o cabelo de azul ou de amarelo.
Pôr a cabeça de fora do vidro do carro.
Cantar no banho para todo o prédio ouvir.
Lamber a tampa dos iogurtes.
Correr que nem um louco na praia.
Falhar que nem um burro só porque tentas.
Praticar sexo oral com frequência.
Tentar que nem um burro só porque queres.
Mudar a decoração de casa num dia só.
Dançar quando estás feliz.
Passar horas só a cuidar de ti.
Dançar quando estás triste.
Dizer bem de quem amas.
Enfiar o dedo no nariz às escondidas.
Dizer bem de quem não amas.
Dançar enquanto estás vivo.
Guardar segredos inconfessáveis.
Experimentar posições sexuais improváveis.
Contar segredos inconfessáveis.
Masturbares-te sem qualquer culpa.
Ter segredos inconfessáveis.
Ver quanto dá o teu carro.
Dizer o que não se pode dizer.
Cagar assiduamente nas convenções sociais.
Sonhar com o que não pode acontecer.
O orgasmo sempre que puderes.
Coçar e ser coçado nas costas.
O gemido sempre que souberes.
Passar muitas horas a contar anedotas.
Adormecer todo torto no sofá.
Passar muitas horas a ouvir anedotas.
Rir que nem um desalmado.
Fazer um penteado estrambólico só porque te apetece mudar.
Rir por tudo e por nada.
Chorar a torto e a direito.
Rebolar na areia quando estás todo molhado.
Chorar porque também é um direito.
Abraçar o teu gato ou o teu cão.
Mandar a austeridade tomar no cu.
Beijar incansavelmente.
Não te levares minimamente a sério.
Dispensar quem te chateia.
Tocar um instrumento qualquer.
Perdoar quem é humano.
Desistir do que não te serve.
Lutar pelo direito à parvoíce.
Escrever um livro.
Dar prioridade ao prazer.
Ler um livro.
Nunca desistir de quem amas.
Aprender desvairadamente.
Fazer cadeirinha com quem amas.
Ensinar desvairadamente.
Perder a respiração pelo menos uma vez por dia.
Nascer pelo menos mais uma vez do que as vezes em que morreres.
Viver desvairadamente.
-Te."

Pedro Chagas Freitas
 

Natal, outras gentes, outro mundo


 
Natal tem sentimento!
Natal tem cor, tem brilho…
A sensibilidade está nos olhares…
Natal tem cheiro…
Natal tem formas!

O Natal parece outro Mundo.
Com outras gentes.
Com mais fome de sentir.
Com mais vontade de abraçar.

Natal é solidário.
Natal é Humano.
O Natal é alegre…

O Natal é saudade!
O Natal é família…

O Natal é triste…
Não consigo não chorar no Natal!

Não consigo não sentir vontade de abraçar aqueles que já partiram.
Aqueles que estão longe...
Ou aqueles que simplesmente saíram da nossa vida sem explicações.
Natal é reflexão.
Natal é quente…
Natal é amor!

Natal é solidão…
Natal é obrigação...
Natal é ilusão…

... De apenas mais um ano a passar…
PatríciAntão

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Onde está o Natal?


 
 
Ruas iluminadas, música de Natal, casacos compridos em correria com sacos na mão. As montras começam estar vazias, e os chocolates encontra-se caídos pelo chão dos supermercados.
Há dinheiro que circula, mas os olhares não se cruzam.
Onde está o Natal?
O que é o Natal para a sociedade atual?
 
PatríciAntão

"Quero ir para os braços da minha mãe"





 
Não, não sei a força que tive e que me mantém. Dia 19 de Agosto de 2012 deixei o Verão da minha Terra, deixei os braços da minha mãe, família, deixei um amor!
 
"É tão cinzenta" a Bélgica, "A saudade tamanha"
 
... "E o Verão nunca mais vem..."
 
"Quero ir para casa!"
 
"Trouxe um pouco de Terra, cheira a pinheiro e a serra!"
 
"Vim em paço de bala, com um diploma na mão"
 
"Deixei o meu amor na Terra!"
 
Faz tanto frio na Bélgica...
 
"Sou já memória e raiz!"
 
"Ninguém sai donde tem paz..."
 
Nunca vou conseguir deixar Portugal...
 
OBRIGADA PEDRO ABRUNHOSA
 
PatríciAntão

Hoje mudei os lençóis da minha cama!


   

     Foi dia de mudar os lençóis da cama onde dorme todos os dias. Naquela noite deitou-se como se fosse envolver-se num leito de magia. Havia entre o toque suave, um cheiro que a envolveu num passado muito distante.
    Lembrou-se do toque suave das mãos da mãe. Reviveu cada noite que adormecia na proteção do amor de um toque na sobrancelha que a abarcava para o conforto inexplicável. Era como se o toque da mãe a protegesse dos males do mundo e lhe dissesse que todos os medos eram imaginários.
    Abriu os olhos… era apenas um sonho! Mais um sonho longínquo em que a realidade presente se baseava exatamente no oposto.
    Transpirando o medo de não voltar sentir esta proteção, agarrou na almofada e num pequeno poro conseguiu tirar uma pena. Fê-la voar até ao candeeiro que iluminava uma pequena parte do sombrio quarto. E foi ai que percebeu o quão pesada se sentia.
    Eram as amarras da solidão, mas sobretudo das raízes que tinham crescido.
    Estava convicta de que estava lançada às feras deste mundo, e que apenas o toque e o cheiro de uns lençóis acabados de lavar a poderiam transportar para esse conforto…
… o conforto de proteção que todos os adultos que têm medo de deixar ser criança sentem!
PatríciAntão