Caminhava com os pés na água, água turva essa que não deixava espelhar as nuvens!
Avistavam-se remoinhos, mas afastavam-se com timidez do anoitecer, onde o perto ficou ainda mais longe, invertendo os ponteiros do tempo num silêncio eterno, onde o caminho era sem destino.
Na areia ouviam-se vozes. Seriam apenas gritos abafados das ondas, esmagados pelos rochedos?!
Desespero…
Sem nada saber seguiu o luar. Onde parou? Talvez nunca tenha parado, pois o mar não secou, e a lua ali continuou guiá-lo.
Mas as ondas não deixaram de gritar, e em cada despertar, o sonho realizava o cenário deste espelho de água turva.
A verdade do mar ruiu.
A água foi ficando cada vez mais límpida e cristalina, o seu coração duplicou de tamanho e viu o futuro num instante e pensou: isto não é verdade, é impossível sentir tanta paz e serenidade ao mesmo tempo e de repente.
Já não tinha ossos nem carne, deixou de ser “ser humano” e passou ser emoção. Era feito de alma e no peito escorria felicidade.
A cabeça fervilhava de ideias, e o espírito consumia-se no mais delicioso sorriso.
Olhou agora para a transparente água e viu-se a ele mesmo. Nele viu muitas coisas que não vira até hoje. Seria o brilho da água confundido com o do seu olhar?!
Havia também um escudo que o tentava proteger do mundo, uma voz sempre afável e disponível, um sorriso aberto e franco, uma mão pronta a dar, um ombro preparado a receber todas as lágrimas e tristezas.
Olhar agora o Mar era um pilar, mesmo quando se sentia fraco e vulnerável, era sempre um ponto de equilíbrio que o fez atravessar o arame do cais, sem medo. Porque sabia que estaria do outro lado com a mão estendida à sua espera a esperança e recompensa pela luta diária.
Excepcionalmente belas, as ondas eram agora calmas e serena.
Via-as assim, perfeitas quase a voar quando caminha sobre a água, como se a areia se projecta-se no ar, leve como uma pena, a pairar, a pairar...
O Mar ensinou-lhe coisas tão diferentes como escolher a roupa que iria usar de manhã ou aprender a ouvir as batidas do meu próprio coração.
Tinha medo de se perder em tanta fortuna, após tanto tormento e sacrifício.
Ele sabia o que é acordar exausto depois de horas mal dormidas porque a cabeça não pára ,nunca pára, não deixa o corpo desligar…
Deitou-se agora sob a areia húmida contanto as estrelas e meditou: “Tu céu, conheces a fraqueza deste coração, e só entregas o fardo a quem realmente o pode carregar.
Tu entendes o meu amor pela Vida - porque ela é a única coisa que tenho de realmente meu, a única coisa que poderei carregar para a outra vida, se esta houver.
Faz com que este coração se conserve corajoso e puro, capaz de continuar vivo, apesar dos abismos e das armadilhas do mundo…”
Viver intensamente o presente sem futuro, acreditando no amor e na Vida, sentido paz e serenidade.
É a pequena história do Soldado da Vida, que luta, sobrevivendo o dia-a-dia, não respirando, mas amando.
O facto de acreditarem ou não no destino resume-se a uma coisa: quem culpa quando algo corre mal?
Acham que a culpa é vossa?!
Se se esforçassem mais, tal não teria acontecido? Ou limitam-se a atribuir a culpa às circunstâncias?
A água turva transforma-se em água cristalina…
“Porque há estrelas no céu!”
Adormeceu e ninguém sabe se acordou!´
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