Quero perder-me no meu silêncio. Posso não estar no meu perfeito juízo, mas há pessoas assim: felizes com a sua própria solidão. De mãos dadas com o vazio, é apenas isto que quero: um nada do meio de tanto que rejeito. Quero ler o soneto em branco e ouvir o som surdo. Quero deixar de acreditar que a vida é magia, vivendo em busca de nada, esperando irrealidades desfeitas em dádivas do eco do fundo de uma garrafa vazia.
Interpreto os esboços de uma tela do bêbedo pintor e vou em busca dessa realidade nos passos que abandonou na margem do mar. Quero encontrá-lo, olhar bem no fundo do seu olhar e confrontar o mundo dele com a minha solidão. Semelhanças ou diferenças, perdidos ou achados…
Quero ser professor da minha própria voz, e comandar o meu espírito para um retiro de ideias e pensamentos.
Não quero pensar em nada, em ninguém, quero desprender os pés da terra, multiplicar a adrenalina, e descolar deste piso. Não quero morrer, não quero adormecer, mas quero deixar de viver por instantes. É isso possível sem a droga do sonho que me comanda? Estará ela impulsionar para o meu cérebro um delírio e transformar estes factos num pesadelo com os relâmpagos da trovoada que servem como música de fundo?
Estou cansada do meu olhar, enraivecida com a minha presença neste palco e insatisfeita com a minha representação.
Fechem as cortinas, não aplaudam e deitem-me à cara toda esta vergonha do fracasso de estar deixar de ser eu mesma.
Se fosse apenas eu… mas tudo se arrasta acorrentado à minha cruz. Qual a salvação da minha própria personalidade?!
Não, não há título para estes momentos de ausência. É como se a minha casca deambulasse descolada de todas as minhas promessas interiores. Onde estão os valores? Porque valorizo eu, o nada?
Só o silêncio de aconchega.
Pareço uma dama negra de drama, com incapacidade de erguer as mãos aos céus e brindar com as estrelas.
Indiferença perante o Mundo.
Toda esta realidade se deve a ter tudo e não querer nada.
É como uma noite sem luar…
E quando as estrelas são o meu abrigo, atinjo o limite da minha verdade, e desisto de me entender a mim mesma.
Sem objectivos, sem verdades ou falsidades, não construo castelos e atiro a areia para os meus próprios olhos.
E de repente, quando a insistência de algo me faz desistir e fechar os olhos avisto com a minha alma semicerrada uma estrela cadente…
Peço um desejo?
O que quero quando tenho tudo e não quero nada?
Por hoje é tudo…
(Sinto-me nada!)
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