quinta-feira, 24 de março de 2011

Fim de Tudo


    Baú de fotografias de quando era criança foi o horizonte entre mãos durante horas a fim, numa noite nostálgica de chuva e do som estridente da trovoada tentar afastar sonhos e martirizar pensamentos. O que é esta paragem no tempo? Que passagem é esta pelo caminho de recordar algo que não passa de memórias fotográficas?! A fantasia tem brilho como as estrelas, e quando olhamos para as estrelas fantasiamos a realidade. Deixamos de sentir os pés na terra e apanhamos balanço para voar…
    A gente vai continuar a viver e contar sempre memórias passadas, mesmo quando o moinho não bate mais nessas águas. Antes que venha a escuridão, há-de saber sempre bem um abraço, como se fosse uma história de princesas com final feliz. E assim adormecemos, tentando esquecer os problemas que soam a dura e pura realidade de uma menina da foto que cresceu.
    Ao teu redor há baile de máscaras e os amigos por vezes não se diferenciam de conhecidos numa multidão, balançamos como soldados de chumbo nesta caminhada de pedras frias da calçada, e cada lugar só nosso deixa de ser mágico, porque alguém com quem tivemos coragem de o partilhar partiu sem olhar para trás e deixou o nosso coração de cristal despedaçado em bocadinhos tão pequeninos que sentimos que nunca vamos encontrar uma cola poderosa que os possa reconstruir.
    Inventamos charcos de chuva de prata, quando o único charco da alma é o sal das lágrimas. Mas quando temos coragem de erguer a cabeça, o sol erradia, e a cidade em tons de cinza e negro avista as cores do arco-íris.
    Todos são cúmplices para nos derrubar, e cada um de nós tem de arranjar forças no escuro luar para que sejamos únicos e poderosos, não para existir, não para viver, mas sim para sobreviver…
    Há uma dança na terra muito estranha neste momento. Será que finalmente a natureza apostou na vingança contra o Homem?! Será justo? Será apenas um susto?!
    Fará parte da condição humana actual ter medo de ficar mais perto do fim de tudo?!
    Do lado quente da saudade da fotografia que cabe numa mão e sente-se numa vida, provocam-se amargas questões rebeldes de um espírito que está domado pelo medo que acabem todos os sonhos…
   Onde se bebe água da fonte dos Deuses? Terá esta humanidade ainda capacidade de acreditar e ter fé?!
   Que fragilidade estou eu assistir? Ainda a denominam CRISE?! Só se a subentender por Crise de Valores…
    Grito que “Hoje quero ficar!”, mas até quando poderei eu ficar?!
    Gente perdida… que não luta por se encontrar. Onde está p sabor de uma amora suja pelo pó da sede? Onde está o arrepio de molhar o pé na água gelada do mar? Onde estão as sensações? Onde está o verdadeiro Homem?
   E não, não sonho que o Universo se transforme numa ilha de imortais. Sonho apenas na simplicidade de uma ilha de mortais sem o susto desta crise indisciplinada de espírito.
    Lado a lado só se for para um jogo económico, a justiça só é feita se for pelas próprias mãos. E segurança só se tiver um par de notas na carteira e alguém poderoso que se sente no trono do poder.
    Quando já anda é intacto olho para a fotografia com o meu sorriso de criança…
    Cresci para isto?!
   Estes vestígios de Humanidade provocam-me náuseas e vertigens!

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