sábado, 12 de março de 2011

Cicatrizes


Menino assustado caiu de bicicleta no alcatrão. Quem não conta uma história destas?! Como o chão com gelo que nos fez escorregar e sentimos a adrenalina curar-nos o susto…

Catorze letras que aprendemos com a leitura do passado… É como um rectângulo de papel rugoso que escondemos dentro de um livro, só porque foi o nosso primeiro amor que nos ofereceu entre pequenas carteiras riscadas de escola. Todas elas serviram de porta-cartas de pequenas histórias de amor.

Pequenas luzes da nossa aurora, actuam em eclipse, mas é nele que começam surgir os negros corvos que rangem sons estridentes na nossa pura alma de criança. Uma bala é laçada no nosso coração e é assim que crescemos.

Furando com balas de todas as cores, e como Dolores vagabundos desta vida só nos resta querer curar, e com o tempo deixar cicatrizar.

No entanto “Aquele Verão” ficará para sempre na nossa memória. E os quatro pequenos grandes sonhos de criança assinalarão perpetuamente a nossa personalidade.

A novidade para nós, já como adultos deveria ser sempre como a primeira ida ao Jardim Zoológico. Porque é no coração do bosque que imaginamos a Terra do Nunca, onde nos seguramos a sonhos, a fé e sobretudo ao “Regresso a Casa”, onde reencontramos origens e passados. Onde a última onda é a primeira carta. Onde o murmúrio das paredes é o fenómeno de coisas simples que apenas se tornaram complicadas porque crescemos…

E logo nós, que sempre sonhamos em criança “quando for grande…” Porque terá uma criança tanta pressa a crescer, quando em adulto é tão duro isso acontecer?!

Baldios, estradas secundárias, ravinas… foi este o caminho que escolhemos?!

Destino ou não. Sina ou Sorte… Coisas simples e coisas complexas… crescer ou ser eternamente uma criança?!

Podemos ter dupla personalidade, cinco bibliografias ou uma tragédia na vida. Mas haverá sempre mais do que quatro pregos pregados na nossa tábua rasa. Respiraremos sempre pequenas ou maiores percentagens de monóxido de carbono.

Não é que o paraíso de meninos esteja perdido… Há sempre uma última dose de fé e esperança de voltarmos ser ingénuos. Mas existirá sempre no ar a antimatéria que respiramos inconscientemente.

É como ver Teatro ao microscópio. Parábolas e dissonâncias… as pessoas não são mais nem menos, miniaturas de uma esfera circulante.

As cicatrizes da minha vida… para que servem elas senão para ferir, curar, crescer…?!

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