Avô Abel
Hoje questiono-me porque estou eu tão
longe, sem sequer ter a oportunidade de te presentear e homenagear um último
adeus. Só Deus sabe a dor que estou sentir neste momento, estar aqui sozinha
sem poder abraçar o meu pai, os meus tios e resto da família, e sobretudo
dizer-te “Até já” e dar-te um último beijo
Hoje partiste: o único avô que já tinha
nesta vida. O meu herói, o meu poeta, o meu humorista, o meu artista. Eras o
rei de Genísio, o que dava sentido a essa aldeia e família. Eras dos mais
estimados, e amados. Eras tu que levavas por gestos e atos todas as formas de
amor e saber estar na vida. A tua forte personalidade foi vincada, quando
venceste com todas as forças contra tantos problemas de saúde que eu achava que
eram impossíveis de serem ultrapassados durante tanto tempo. Provaste então ser
o vencedor e guerreiro que eu sempre soube que eras. Pois foste tu que me
ensinaste que nesta vida não podemos desistir do que somos e do que queremos.
Chamaram-te tantas vezes teimoso, e eu vendo muitos dos meus atos espelhados em
muito do que me transmitiste, sempre tive orgulho de dizer que era neta do “ti
Abel”.
Recordo quando ia contigo para as feiras
de artesanato e dizia com um sorriso babado, “sim, é o meu avô que faz!”,
recordo os teus poemas, as tuas histórias contadas à lareira, das tuas inigualáveis
mãos de artista que moldavam a madeira com amor. Os teus olhos eram sempre
atentos, e tu inteligente e sábio ofereceste-me tanto nesta vida! Não foram apenas os conselhos de avô, os
sorrisos, as histórias ou os sermões bem dados, foi o ensinamento de um “saber
ser” que ninguém me o vai tirar.
Um dia, se tiver netos o teu nome vai ser
falado, as tuas histórias serão contadas, a tua fotografia mostrada e a tua
arte revelada.
Tiveste sensibilidade e humor até ao
último abraço que me deste: de lágrimas a escorrer-te pela cara, sempre unido
aos netos disseste-me: “Vai, e vai comer a merenda antes de te ires embora,
porque sempre foste a mais ruim para comer!”. Hoje posso prometer-te que já não
sou a mais ruim para comer, e que vou sentir muitas saudades das merendas que
comemos juntos.
Acalma-me a dor saber que te despediste de
nós tranquilo e sempre lúcido, mas eu ainda tinha tanto para te dizer, para te
mostrar, para viver contigo…
Eras e és das pessoas mais importantes da
minha vida. Não és apenas o meu avô, és o nosso grande Pai, o nosso grande
sábio, e vai-se falar sempre no teu nome com enorme orgulho.
Tantas palavras que tinha neste momento
para dizer…. Mas preciso de silêncio para acreditar e aceitar avô.
Saudades sem fim…
Porque tu nunca terás um fim. O meu amor
por ti é eterno.
Até
já Avô Abel 13-01-2014
Protege-nos e guia-nos na Luz,
estejas onde estiveres!
A tua neta, com dor e saudade
Patrícia
Susana Martins ANTÃO
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