terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Avô Abel


 
Avô Abel
Hoje questiono-me porque estou eu tão longe, sem sequer ter a oportunidade de te presentear e homenagear um último adeus. Só Deus sabe a dor que estou sentir neste momento, estar aqui sozinha sem poder abraçar o meu pai, os meus tios e resto da família, e sobretudo dizer-te “Até já” e dar-te um último beijo
Hoje partiste: o único avô que já tinha nesta vida. O meu herói, o meu poeta, o meu humorista, o meu artista. Eras o rei de Genísio, o que dava sentido a essa aldeia e família. Eras dos mais estimados, e amados. Eras tu que levavas por gestos e atos todas as formas de amor e saber estar na vida. A tua forte personalidade foi vincada, quando venceste com todas as forças contra tantos problemas de saúde que eu achava que eram impossíveis de serem ultrapassados durante tanto tempo. Provaste então ser o vencedor e guerreiro que eu sempre soube que eras. Pois foste tu que me ensinaste que nesta vida não podemos desistir do que somos e do que queremos. Chamaram-te tantas vezes teimoso, e eu vendo muitos dos meus atos espelhados em muito do que me transmitiste, sempre tive orgulho de dizer que era neta do “ti Abel”.
Recordo quando ia contigo para as feiras de artesanato e dizia com um sorriso babado, “sim, é o meu avô que faz!”, recordo os teus poemas, as tuas histórias contadas à lareira, das tuas inigualáveis mãos de artista que moldavam a madeira com amor. Os teus olhos eram sempre atentos, e tu inteligente e sábio ofereceste-me tanto nesta vida!  Não foram apenas os conselhos de avô, os sorrisos, as histórias ou os sermões bem dados, foi o ensinamento de um “saber ser” que ninguém me o vai tirar.
Um dia, se tiver netos o teu nome vai ser falado, as tuas histórias serão contadas, a tua fotografia mostrada e a tua arte revelada.
Tiveste sensibilidade e humor até ao último abraço que me deste: de lágrimas a escorrer-te pela cara, sempre unido aos netos disseste-me: “Vai, e vai comer a merenda antes de te ires embora, porque sempre foste a mais ruim para comer!”. Hoje posso prometer-te que já não sou a mais ruim para comer, e que vou sentir muitas saudades das merendas que comemos juntos.
Acalma-me a dor saber que te despediste de nós tranquilo e sempre lúcido, mas eu ainda tinha tanto para te dizer, para te mostrar, para viver contigo…
Eras e és das pessoas mais importantes da minha vida. Não és apenas o meu avô, és o nosso grande Pai, o nosso grande sábio, e vai-se falar sempre no teu nome com enorme orgulho.
Tantas palavras que tinha neste momento para dizer…. Mas preciso de silêncio para acreditar e aceitar avô.
Saudades sem fim…

Porque tu nunca terás um fim. O meu amor por ti é eterno.

Até já Avô Abel                                                                 13-01-2014

Protege-nos e guia-nos na Luz, estejas onde estiveres!
A tua neta, com dor e saudade
Patrícia Susana Martins ANTÃO

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