segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

No teu chão


Vou encontrar a tua chave e desenterrá-la!

Vou escavar até às profundezas e procurar tudo o que te pertence.

Esquece os segredos,

Esquece a tua história.
Chegou a hora de escrever um novo capítulo, sem sombras.

Entra por esta porta, não precisas de chave.

Já muito tempo que está aberta.

E só tu não consegues vê-la.

Quantos palmos abaixo do chão se encontra esse tesouro?!

A quantos passos estamos nós do céu?!

Não me vais ver cair novamente.

Fortaleceste-me com o teu esconderijo.

Vou ficar aqui, atrás de ti, escondida entre as paredes.

E agora, se te vir cair, não te amparo.

Deixo-te cair, sentir a dor que eu senti.

Para que te seja permitido ir mais além do chão.

Tudo está nas profundezas…

Aprende a chorar.

Sente a sofrer.

Vê um mundo para além do chão que calcas sem olhar.

O céu dar-te-á o troco desta queda imortal.

Muita coisa vai morrer em ti.

Não comeces guerras com armas só tuas.

Todos os movimentos fizeste até hoje, esfarelaram a minha face.

Veio tudo desaparecer sem deixar traços.

Podes levantar e sorrir, podes sentar e chorar.

Não vás pela ponte, vai pela margem.

A maré não apanhará.

Não olhes para trás.

Estou escondida, entre as paredes, e não te vou amparar…

Não, não te quero ver cair.

É este o modo de conceber as profundezas onde está a tua chave.

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