Não sou nada mais que uma pobre criança que não cresce, nem quer crescer. Criança desconhecida, perdida na semelhança entre a realidade adulta e a eterna ilusão infantil!
Ás vezes pego numa folha de papiro e quero escrever um poema em linha recta, mas a minha instabilidade e anormalidade não me permite fazer nada linear.
Olha-me: rio como uma criança, acredito nos sonhos como uma criança, iludo-me e desiludo-me como uma criança!
Até poderia fazer um intervalo e crescer mais... mas para quê, se os seres mais felizes e puros são as crianças?!
Deixaria de ser aquilo que quero. Seria algo desconhecido num mundo que não o meu.
Prefiro rosas com espinhos e magoar-me com elas que rosas de engano, suaves como as mentiras adultas!
Entrei um dia no palco da vida com pés descalços, e nenhuma carta de amor, nenhuma poesia, nenhum sonho e nenhum "impossível" me pareceram algum dia ridículos!
Passei pela estrada e revi muitas memórias pela margem, mas a minha forma de caminhar foi sempre esta.
Para ser grande teria de deixar de acreditar em muito, e eu prefiro voar nas asas da minha própria ilusão. Só assim atinjo todos os meus objectivos de vida.
Na minha psique os erros são considerados obstáculos para o meu desenvolvimento e nunca crescimento. Quero ser assim.... bem pequenina num corpo gigante!
Todos os dias acordo com pena de muitos não me entenderem, mas com a alegria de saber que me quero manter assim.
Posso pensar nas estrelas como meus anjos da guarda, posso pensar no céu como cenário perfeito para desenhar os meus sonhos, posso parecer uma grande ridícula com esta pequenez, mas sou eu... e isso basta!
Ás vezes preferia ser pó das minhas memórias de infância, mas o pensamento torna-as tóxicas para conseguir olhar em frente...
O meu olhar, ao entardecer do dia perde algo: perde mais um sonho, perde mais um dia, perde mais infância: aquela que estará para sempre perdida.
Quebraram-me no rosto muitos momentos cristalinos. Meus olhos tornam-se opacos, mas o meu coração sereno conseguiu quase sempre perdoar a velha música tardia!
Parece que há momentos em que desperto, e aí penso que cresci... Mas o sal que corre pelo meu rosto tem sempre o mesmo sabor... e os meus sonhos confusos tornam-se em cor natural, como aquele gato que recordo a brincar na minha rua!
Quero para sempre esta frescura na minha face de não querer cumprir o dever de crescer.
A máquina do tempo não existe, os segundos não esperam, e quando olhar para as expressões das minhas rugas, que seja a do sorriso a mais evidente... o sorriso de alguém que envelhece mas jamais cresce!
Tenho este sentimento inato de eterna criança e quem me dera que a vida nunca me o tire...
Sossego o meu coração, pensando que se não mudei até hoje, a miséria do meu ser não encontrará algum dia outra alma senão a de criança.
Não é uma obra, não é arte, não é considerar-me imatura... é uma forma de viver!
Amo tudo para além do horizonte, amo tudo o que fui, e amo brincar à vida como criança.
Não gozo com os factos e duras realidades. Vejo apenas a inocência de criança como a borboleta na minha companhia.
Para quê tanto sofrimento, se todo o sentimento se baseia em constantes metamorfoses?!
Revelo-me entre a chuva obliqua e tenho medo que me considerem ingénua apenas por ter grande
capacidade de perdão... mas as marcas ficam. Não há uma criança sem cicatrizes... mas elas continuam a brincar e cair!
Pois... melancolia é o meu forte, e uma criança melancólica torna-se num ser sem cor. Mas eu pinto todos os dias o meu chão em forma de arco-íris...
Tudo o que sou não é mais que uma forma de defesa... e o adiantamento do meu crescimento seria de imediato o meu arrependimento. Porque quero ser assim. Não quero ser de outra forma. Não sei viver de outra maneira senão esta.
Seja por esta hora, seja na minha velhice...
Quero viver como uma criança!
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