Jurei nunca contar a ninguém quem eu sou. Nunca contei a ninguém, e escondi no baú mais profundo do meu sótão toda a verdade sobre mim.
Até ao dia...
Até ao dia em que um pássaro espreitou pela minha janela e descobriu quem eu era, na minha mais imoderada solidão. Discreto, fez um ninho e todas as minhas horas ele coabitou.
E um dia, cansado de ver entre os meus dias intervalos pintados de negro, ele cantou sobre aquilo que me tinha tornado! Cantou tão alto que eu própria tinha medo de perceber aquilo que ele tentava dizer sobre mim.
Era tão claro aquilo que ele cantava...
Convencida que o calava convidei-o entrar na minha janela, com a sensação de que ele se iria justificar.
Mas em vez disso, ele voou entre todas as minhas paredes e cantava cada vez mais alto, para mim e para o meu mundo, tudo aquilo que eu era.
Não, eu não o podia soltar. Achava que ninguém me iria conhecer, e tinha sido enganada por um simples pássaro a cantar.
Queria sufocar toda aquela canção, e fechei-o de mim, num caixa de cartão.
Ele fitava-me com um olhar de quem não iria parar de cantar, e sem medo o destemido, abria as asas, como sorrindo por nem eu mesma o conseguir parar.
Até nos meus sonhos voava, até a dormir ele cantava...
Abri a minha boca para gritar, para dizer ao mundo para o passáro calar!
Mas quando agitei os meus braços agitada, toda aquela canção ficou desorientada.
Ele tinha fome de liberdade, precisava de voar. Mas eu só queria que sobre mim parasse de cantar.
Da minha boca já saía aquela canção...
Estava interiorizada bem nas raízes do meu coração.
Um dia abri a janela para o pássaro partir.
-"Vai e conta ao mundo todo quem sou. Eles acharão que estás mentir."
Ele ficou ali, no beiral da janela.
Até o dia...
Até o dia que percebi que ele não tinha asas de pássaro, nem bico de quem catava mentira.
Era eu mesma a fantasia da personagem das canções dele...
Até o dia que percebi que era ele quem me dizia toda a verdade.
Que queria que eu saísse daquela negra solidão.
Ele não era um pássaro...
Era o meu anjo da guarda
Que foi e não veio!
Que eu expulsei e tenho saudade...
... Só porque não queria ouvir a verdade!
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