sexta-feira, 22 de março de 2013

Um dia: Fiz a mala... e parti!

 
Nem queria aqui estar, mas o vento soprou-me ao ouvido e segredou-me que estava na hora de partir.
A energia foi mais forte, e não foi apenas o impulso do segredar… O conjunto da totalidade universal obrigou-me fazer as malas e partir. Partir em busca de quê?  Nem eu sabia! Quando meti todos os trapos naquela mala nem eu mesma estava convencida de que isso iria acontecer.
Aquela luz vaga fez a minha cruz mais leve. A minha tensão estava normal, a minha pulsação não estava reagir à realidade. Ainda não me sentia num abismo imaginário, ainda não aceitava a sensação.
Nunca me convenci de que iria partir, nunca soube para o que ia…
Mas, desde que pus os pés neste mundo sempre reagi assim: por impulsividade.
A emoção rasga todos os meus raciocínios, e penso que em todas as marés cada onda tem o seu sentido, porque nada neste mundo é por acaso.
Poderia perceber que toda esta mudança seria um impacto para os que me rodeavam, mas não para mim.
...
 
… Antes de fazer esta mala naveguei em marés muito violentas. O meu barco andava à deriva, sem vela, sem remos, quase afundado! Todas as tempestades fizeram com que já não tivesse mais madeira para remendar aquilo que não tinha emenda.
Todos aqueles gritos no silêncio afinal tinham um sentido. Chegaram aos céus e alguém me ouviu, e fartando-se da minha própria destruição mandou os ventos soprarem-me ao ouvido e obrigarem-me fazer esta mala.
Muito perto de toda a realidade, eu apenas não queria ver aquilo que estava mesmo à minha frente: tinha chegado a hora da mudança.
Precisava não só de atravessar terras, como de ficar por muito tempo ausente daquilo que me tinha tornado longínqua da minha realidade.
A tortura do meu dia-a-dia jamais permitiria reconstrui-me.
Não eram conselhos, não eram cápsulas de químicos, não eram lágrimas ou sorrisos adulterados. Era eu que estava fugir da minha universalidade, e precisava de sair de toda essa realidade.
E os ventos obrigaram-me subir mais alto e ficar mais perto das nuvens para perceber que aquela mala era coisa mais certa que tinha de fazer.
Entre trapos e memórias, entre fotografias da mente, onde iria eu parar? Não sabia… nem sabia o que me esperava, muito menos como iria reagir.
 
Entre medos das pessoas que me eram próximas, dizendo elas que seria o melhor, mas com muito medo de como eu iria reagir.
Telefonavam-me com som de “Será que aguentas esta?” Ficavam quase escandalizados com o meu tom de voz, de indiferença, de adaptação automática, de inicio de uma felicidade estranha e incompreensível.
Afinal secalhar eu mesma não sabia até onde podia ir.
Não precisava de apanhar um avião para peceber isso, mas não fui suficientemente forte para o perceber sem ter de atravessar as terras. As terras que distanciam pessoas, sentimentos, mágoas, memórias. As terras que distanciam o meu “eu” antes da mala feita, e o meu “eu” depois de recomeçar a minha vida bem longe daquilo tudo em que eu me estava a degradar.
Vivia em linhas cruzadas.
Hoje olho para a palma da minha mão e reajo a linhas que escondo, perdidas no meu olhar…
Fiz a mala, e já uns dias que estou aqui… já um meses… não tarda e posso falar “há um ano”…
E sinto ainda que este meu cruzar pode nem passar de um capricho ou de uma minha invenção.  
Mas por que raio devo evitar a mudança?
Se foi isso que me salvou?!
… Fazer a mala!
PatríciAntão

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