Ontem quando liguei a TV despontou dentro de mim uma vontade
inevitável de chorar.
Chorar por mim, pelos meus sonhos, pela minha família e
amigos, por todos os cidadãos Portugueses!
Cidadã Portuguesa de 25 anos, que para conseguir emprego teve
de abandonar todos os seus sonhos e ir em busca daquele que hoje, único possível
e alcançado: ser uma simples enfermeira na Bélgica, porque o meu país não me
deu sequer oportunidade de me abrir uma porta quando entre muitas abordei durante um ano e meio de desemprego.
… Fui uma criança filha de emigrante. Posso considerar que
tive uma infância mais ou menos feliz, apesar da ausência paternal lá em casa.
Não havia facilidades de transporte rápido como nos dias de hoje. Fazia
juntamente com a minha mãe cruzes no calendário para as férias da Páscoa, Verão
e Natal para apanharmos um autocarro de quase 2 dias para chegar ao encontro do
meu pai. Aquele que emigrou há quase 30 anos para me dar o melhor. Dizem os
entendidos que: “O teu pai emigrou para a França no tempo das vacas gordas!”.
Como nunca me faltou pão na mesa para comer, achava eu que havia sempre
dinheiro para comprar a variedade necessária para uma mesa recheada.
Nunca na vida pensei em emigrar. Unha e carne ao seu
cantinho de encantar e aos seus, sempre pensou em estudar e fazer uma vida por
ali mesmo.
Contrariada com a ideia de não ter tido um crescimento com
um pai por perto, jurei a mim mesma nunca sair do lado dos meus.
Imortal sonhadora: crescer, ser enfermeira, ter um amor e
casar. Foi assim a história escrita… Por ela que vai agora fazer um ano que foi
obrigada a deixar a família, amigos e um grande amor para conseguir apenas ser
enfermeira.
Enfermeira sem mais nada.
Achava eu apenas o tempo suficiente para que as coisas no meu pais restabelecessem
sentido. Pois eu achava que isto não passaria de um equívoco político sem
sentido e temporário!
Hoje um ser desiludido com o meu próprio país. A emigrante
que está na Bélgica para trabalhar e ganhar dinheiro. Porque já ouvi de
pacientes meus : “Pobre coitada, é Portuguesa, já não têm dinheiro para comer!”
É triste os outros me verem como a “emigrante do terceiro
mundo” que está apenas aqui para servir.
É triste não poder servir o meu país. Ter de deixar tudo e
todos…
Uns nascem, outros envelhecem e outros morrem… enquanto eu
estou aqui: perdida neste país que não é o meu!
Porque simplesmente a má política de Portugal faz-me
desacreditar nos meus sonhos de sempre.
Porque tive de mudar uma vida por Portugal.
Eu e muitos como eu!
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