sábado, 27 de julho de 2013

Entre a Lua e Água


      
 Recordo-me de quando tinha dificuldade em conviver com os outros, e só me abstraí do meu grande problema quando ultrapassei o facto de não conseguir conviver com o meu espelho.
      A renúncia do que era mais evidente atenuou com palavras, palavras essas que nunca eu pensei exteriorizar para fora de mim, achando que nunca ninguém me iria entender, pois eu própria não me entendia a mim.
      Conflito entre mim e o reflexo que via na água ao tentar beber com as duas mãos… o reflexo narcisista das aberrações que habitavam na minha alma, e naquelas que se acomodavam inconfortavelmente na minha mente.
      Tudo aquilo era o medo de mim própria, e do que o Mundo poderia achar da minha anormalidade assente na loucura. Numa loucura desequilibrada entre teoria e prática, entre palavras e pensamentos.
      Pensamentos controversos que abateram todo o sentido da minha existência…
     Espero um dia atingir esse equilíbrio pelo qual luto, pelo qual rescindo todos os meus próprios atos.
Que um dia consiga ir ao rio, e em vez do meu reflexo sobreposto pelo da Lua, consiga apenas ver o reflexo do equilíbrio entre água e peixes que habitam nela!
 
PatríciAntao

quinta-feira, 4 de julho de 2013

A política do meu país obrigou-me abandonar os meus sonhos!


 
Ontem quando liguei a TV despontou dentro de mim uma vontade inevitável de chorar.
Chorar por mim, pelos meus sonhos, pela minha família e amigos, por todos os cidadãos Portugueses!
Cidadã Portuguesa de 25 anos, que para conseguir emprego teve de abandonar todos os seus sonhos e ir em busca daquele que hoje, único possível e alcançado: ser uma simples enfermeira na Bélgica, porque o meu país não me deu sequer oportunidade de me abrir uma porta  quando entre muitas abordei  durante um ano e meio de desemprego.
 
… Fui uma criança filha de emigrante. Posso considerar que tive uma infância mais ou menos feliz, apesar da ausência paternal lá em casa. Não havia facilidades de transporte rápido como nos dias de hoje. Fazia juntamente com a minha mãe cruzes no calendário para as férias da Páscoa, Verão e Natal para apanharmos um autocarro de quase 2 dias para chegar ao encontro do meu pai. Aquele que emigrou há quase 30 anos para me dar o melhor. Dizem os entendidos que: “O teu pai emigrou para a França no tempo das vacas gordas!”. Como nunca me faltou pão na mesa para comer, achava eu que havia sempre dinheiro para comprar a variedade necessária  para uma mesa recheada.
Nunca na vida pensei em emigrar. Unha e carne ao seu cantinho de encantar e aos seus, sempre pensou em estudar e fazer uma vida por ali mesmo.
Contrariada com a ideia de não ter tido um crescimento com um pai por perto, jurei a mim mesma nunca sair do lado dos meus.
Imortal sonhadora: crescer, ser enfermeira, ter um amor e casar. Foi assim a história escrita… Por ela que vai agora fazer um ano que foi obrigada a deixar a família, amigos e  um grande amor para conseguir apenas ser enfermeira.
 
Enfermeira sem mais nada.
 
Achava eu apenas o tempo suficiente para que as coisas no meu pais restabelecessem sentido. Pois eu achava que isto não passaria de um equívoco político sem sentido e temporário!
Hoje um ser desiludido com o meu próprio país. A emigrante que está na Bélgica para trabalhar e ganhar dinheiro. Porque já ouvi de pacientes meus : “Pobre coitada, é Portuguesa, já não têm dinheiro para comer!”
É triste os outros me verem como a “emigrante do terceiro mundo” que está apenas aqui para servir.
É triste não poder servir o meu país. Ter de deixar tudo e todos…
Uns nascem, outros envelhecem e outros morrem… enquanto eu estou aqui: perdida neste país que não é o meu!
Porque simplesmente a má política de Portugal faz-me desacreditar nos meus sonhos de sempre.
Porque tive de mudar uma vida por Portugal.
Eu e muitos como eu!
 
PatríciAntão