Se toda a saudade que se sente se escrevesse em verso, seria
em forma de lágrima.
Escabiosa lágrima de gritos, fantasias, idealidades e surpresas.
A arte de fotografar, de escrever, de pintar, de cantar,
tudo cessa pela saudade… Mesmo havendo a existência do sorriso, o arrepio final
leva a uma lágrima, nem que esta fique guardada nas profundezas do nosso olhar.
Cabisbaixa é a saudade, e dela nos alimentamos para querer
mais no futuro.
Insaciáveis, insatisfeitos queremos viver mais, só porque a
saudade nos segredou que o passado afinal valeu a pena.
Entre todos os esforços encontra-se sempre saudade de algo…
nem que seja apenas da solidão de momentos que ficarão eternamente nossos.
Viajamos entre congruências da vida e a conclusão nenhuma
chegamos a não ser que todos os poetas, todos os loucos, e todos os que se
sentem vivos, sentem obrigatoriamente saudade.
O cheiro a terra molhada, o cheiro ao creme que nos faz
lembrar o Verão, o barulho que nos pareceu familiar, um olhar que já não
pertence à terra… tudo com o contorno da fantasia derivada da nostalgia.
Não se precisa de perder para sentir saudade.
Baste crescer, mudar, adormecer e acordar!
Bate forte lá dentro, no músculo que nos mantém vivo a cada
sentir e a cada pensar, não podemos fugir à saudade.
Sem ela o passado não faz sentido, e por muito duro que seja
lembrado, a saudade está sempre presente.
O chão da varanda do tempo é alto, e mesmo querendo torturar
as histórias que já passaram, a brisa do vento não deixa.
Viver sem saudade é como ser uma esfinge sem segredo. É como
ter um relógio sem ponteiros. Não precisamos de atravessar oceanos e continentes para
sentir saudade. Basta ouvir o fecho da mala, para o nosso corpo reagir a que
qualquer momento de saudade estará para vir.
Será esta a essência da vida e o sentido das nossas emoções?
Será que é a saudade
que nos faz olhar para trás?
Será que é ela a conduta de todo o sangue das nossas veias?
Não sei…
Mas hoje sinto saudade…
Muita saudade do que foi… e não voltará ser!