quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Pena

 
Pena: afeção mais amargurada que um homem pode ter por outro.
Mas, pior que ter pena dos outros é ter pena de nós mesmos.
Quando as guitarras desafinadas prendem nós nos nossos cabelos, a nossa alma de vento morre, a liberdade deixa de existir, o espelho é um objeto que assusta.
As manhãs passam ser doença, e a cura são as eternas noites de solidão.
Não luz nem estrelas, e o caminho não passa de uma maré negra, onde os barcos se perdem na tempestade.
Entre trovões e  chuva, o medo já nem existe, porque foi a pena, foi a pena que tudo roubou. Roubou alma e sentidos, roubou personalidades e afinidades .
Na rua do silêncio a desgraça não é ser pobre, é ter pena. Pena do próprio mundo, com desejos vãos e longínquos, de braços fechados, de olhos cansados onde é já impossível enxergar Primaveras!
Quando me sinto só, tenho pena de mim. Não há qualquer fascinação que me queira levar tal pensamento, recusando-me a abrir os braços e descansar os meus olhos deste penoso sentimento.
Não consigo estabelecer um fim nesta fronteira…
Não tenho pena quando sinto pena.
Que voe a pena nas asas da libertação!

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Maltidas regras sociais!

A chuva bate da vidraça do meu quarto e percorro as gavetas da minha mente. Abro uma e não me agrada, fecho-a e abro a seguinte quando me apercebo que nessa há sentimentos que ainda me podem magoar abro outra e outra, mas todas elas fazem com que haja um turbilhão vindo das gavetas da minha mente.
Então, lentamente se abre uma gaveta com pó e teias de aranha e me chama: Gostas de regras?Não, eu nunca gostei de regras. Mas sempre as cumpri! Porquê? Porque a sociedade me obriga, e se não as cumprir ela pune-me e rejeita-me como ser anormal e perigoso.
Porquê?
Há poucos dias perdi a minha avó… e é nessas alturas que percebemos o quão a vida é curta, mesmo para quem tem 91 anos e vive uma vida plena!
Se não cumpríssemos tanta regra, se não pensássemos tanto no que a sociedade pensa de nós, chorávamos menos, riamo-nos mais, vivenciávamos coisas mais emotivas e não nos desiludíamos tanto. Porque crescemos a  pensar que a sociedade espera muito de nós e teremos portanto de dar o nosso melhor!
Reparem: quando é que nos rimos? Quando alguém caí, quando alguém faz uma asneira sem querer, quando alguém diz algo que não está dentro da linha de etiqueta social.
Então porque é que insistimos em parar em todos os semáforos vermelhos dos nossos caminhos?
Eu não quero ser uma louca andante que voa em busca de algo semelhante a quebra regras. Mas só queria que a sociedade vivesse mais. Que sorrisse para um desconhecido. Que nos abrasássemos todos sem preconceito, que não nos tratássemos como desconhecidos que somos.
Afinal, somos ou não somos todos iguais? Com leis semelhantes, com códigos de trânsito quase universais, e mais que isso tudo, todos nós temos direito a nascer, viver e acabamos por um dia fechar os olhos… sem regras!
Não há regra para morrer. Ninguém tem a capacidade de definir a forma como morre, nem mesmo aqueles que acabam com a própria vida. Porquê esta incompreensão para quem é “aparentemente um louco feliz”?
Porque se eu disser “Bom dia” a um estranho que passa por mim na rua ele chama-me de louca, se eu abraçar uma criança que vai no comboio só porque me transmitiu paz, a mãe vai dizer-lhe que a estranha é perigosa.
Não se protejam tanto…
Não pensem se a água está fria. Mergulhem e sintam o arrepio da água penetrar no vosso corpo. Ficaram doentes? Tratem de vocês. Afinal como se aprende a levantar se não cairmos?! Tratem do corpo, mas tratem sobretudo da alma.
Porque é da alma que esta sociedade está doente.
Os valores estão apodrecer e qualquer dia a verdadeira felicidade extingue-se!
O que fazemos por nós fica para nós, o que fazemos para os outros fica gravado no mundo!
Fico na esperança que esta crise económica faça um impacto positivo: que as pessoas passem dar menos valor aos bens materiais.
Amem as pessoas e usem os materiais, não façam ao contrário. Porque se algo está acontecer no Mundo, é porque Alguém lá em cima viu que o Homem se estava perder nas próprias regras.
Nas regras em que o objetivo é apenas um: valor material!
A minha avó partiu: partiu sem conhecer a nova moeda. Partiu sem aprender a ler! Mas partiu feliz, sabendo que tinha um marido, filhos, netos e a bisneta se orgulham dela.
Mas partiu sem ouvir mais vezes a palavra "amo-te", porque secalhar andavamos ocupados com as regras da sociedade, enquanto deveriamos amar, sorrir, e partilhar felicidade sem regras. Sem ter vergonha de te dizer: amo-te avó... fazes-me falta!