A chuva bate da vidraça do meu quarto e percorro as
gavetas da minha mente. Abro uma e não me agrada, fecho-a e abro a seguinte
quando me apercebo que nessa há sentimentos que ainda me podem magoar abro
outra e outra, mas todas elas fazem com que haja um turbilhão vindo das gavetas
da minha mente.
Então, lentamente se abre uma gaveta com pó e
teias de aranha e me chama: Gostas de regras?Não, eu nunca gostei de regras. Mas sempre as
cumpri! Porquê? Porque a sociedade me obriga, e se não as cumprir ela pune-me e
rejeita-me como ser anormal e perigoso.
Porquê?
Há poucos dias perdi a minha avó… e é nessas
alturas que percebemos o quão a vida é curta, mesmo para quem tem 91 anos e
vive uma vida plena!
Se não cumpríssemos tanta regra, se não
pensássemos tanto no que a sociedade pensa de nós, chorávamos menos, riamo-nos
mais, vivenciávamos coisas mais emotivas e não nos desiludíamos tanto. Porque
crescemos a pensar que a sociedade espera muito de nós e teremos portanto de dar
o nosso melhor!
Reparem: quando é que nos rimos? Quando alguém
caí, quando alguém faz uma asneira sem querer, quando alguém diz algo que não
está dentro da linha de etiqueta social.
Então porque é que insistimos em parar em todos os
semáforos vermelhos dos nossos caminhos?
Eu não quero ser uma louca andante que voa em
busca de algo semelhante a quebra regras. Mas só queria que a sociedade vivesse
mais. Que sorrisse para um desconhecido. Que nos abrasássemos todos sem
preconceito, que não nos tratássemos como desconhecidos que somos.
Afinal, somos ou não somos todos iguais? Com leis
semelhantes, com códigos de trânsito quase universais, e mais que isso tudo,
todos nós temos direito a nascer, viver e acabamos por um dia fechar os olhos…
sem regras!
Não há regra para morrer. Ninguém tem a capacidade
de definir a forma como morre, nem mesmo aqueles que acabam com a própria vida.
Porquê esta incompreensão para quem é “aparentemente um louco feliz”?
Porque se eu disser “Bom dia” a um estranho que
passa por mim na rua ele chama-me de louca, se eu abraçar uma criança que vai
no comboio só porque me transmitiu paz, a mãe vai dizer-lhe que a estranha é
perigosa.
Não se protejam tanto…
Não pensem se a água está fria. Mergulhem e sintam
o arrepio da água penetrar no vosso corpo. Ficaram doentes? Tratem de vocês.
Afinal como se aprende a levantar se não cairmos?! Tratem do corpo, mas tratem
sobretudo da alma.
Porque é da alma que esta sociedade está doente.
Os valores estão apodrecer e qualquer dia a
verdadeira felicidade extingue-se!
O que fazemos por nós fica para nós, o que fazemos
para os outros fica gravado no mundo!
Fico na esperança que esta crise económica faça um
impacto positivo: que as pessoas passem dar menos valor aos bens materiais.
Amem as pessoas e usem os materiais, não façam ao
contrário. Porque se algo está acontecer no Mundo, é porque Alguém lá em cima
viu que o Homem se estava perder nas próprias regras.
Nas regras em que o objetivo é apenas um: valor
material!
A minha avó partiu: partiu sem conhecer a nova moeda. Partiu sem aprender a ler! Mas partiu feliz, sabendo que tinha um marido, filhos, netos e a bisneta se orgulham dela.
Mas partiu sem ouvir mais vezes a palavra "amo-te", porque secalhar andavamos ocupados com as regras da sociedade, enquanto deveriamos amar, sorrir, e partilhar felicidade sem regras. Sem ter vergonha de te dizer: amo-te avó... fazes-me falta!
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