Meus pés pisam as folhas secas que as árvores choraram.
...Todo o chão é um manto coberto de lágrimas, daquelas que nos dão ar e alegria na Primavera.
Parece tudo acabar quando mudamos de estação... Até percebermos que tudo não passou de uma renovação: e o Sol volta a brilhar, as folhas a crescer e as borboletas a voar...
Todo o manto amarelo e castanho é triste e solitário.
A nudez da natureza faz com que me sinta despida de alegria e energia para poder viver.
Embalo-me nos passos entre folhas caídas! Ainda não é noite, mas o dia é sempre escuro e frio.
Sente-se o violino com ferrugem encostado ao solitário banco de jardim. Ele também chora, ele também grita... ele também morre.
Tudo pára ao canto do velho sino onde tudo e todos ficam presos à tristeza e a saudade.
Sinto-me esquecida pelas borboletas e pelo canto dos pássaros. Sinto falta da loucura do Sol! Apenas porque me sinto dominada por esta cor dourada, escondendo-me entre sombras e vazios, ouço vozes de melancolia sem cor nem vontade.
O céu transpira chuva, e os meus sonhos dormem gelados entre os dedos que cruzam a minha sina!
Mas se viver é mesmo isto, porque se morre tanto nestas alturas?!
Para nascer de novo é preciso morrer, semear nesta terra molhada, para que o pó se levante e o verde de esperança renasça com novas flores.
Não posso pensar que a vida é dia sim dia não, como as estações do ano.
Não posso pensar que a minha alma é incerta como o tempo.
Não posso convencer-me que quanto mais envelheço mais idêntica a uma pedra fico: dura e gelada... perdida entre folhas de Outono.
Tenho de fazer uma entrega alucinada e aceitar o frio e a chuva, a sombra e o escuro, pois será essa a luz condutora quando o Sol se esconder.
Vou dar uma oportunidade ao céu de chorar, para depois receber daquilo que sempre me aumentou o calor do coração.
Vou dormir em velhos sonos e jamais abandoná-los!
Como as árvores abandonam as suas velhas folhas...