Queria conseguir compor uma canção. Uma canção que
faz uma incisão cirúrgica ao meu coração e
uma lavagem ao meu cérebro.
Hoje questiono-me: Porque sinto assim? Porque me
vejo assim quando olho ao espelho? Porque questiono tais coisas quando me
deparo com o olhar de pessoas que simplesmente passam pela rua, orientando a sua
rotina?!
Ás vezes preferia não ser assim.
Assim como? Nem eu sei…
Queria que a incoerência humana não me atingisse
desta forma. Queria ser um ser humano mais natural, mais consciente e menos
emocional. Menos sensitivo e sobretudo menos sensível a determinados sentimentos.
Estou farta de me cruzar com as pessoas e
tentar-lhes absorver toda a alma.
Se eu não me compreendo, porque insisto em
compreender as atitudes dos desconhecidos, quando fui em toda a minha
existência uma desconhecida entre todas as minhas paredes?!
Já não é uma simples lágrima que me purifica. Já não
é um simples sorriso que me conquista.
Ele diz que eu sou uma princesa imperfeita, mas eu
só queria acreditar que ainda sou eu que estou viva em todo o meu corpo e que
ainda são os meus valores que me acordam todas as manhãs.
Sim, já muito tempo que não fazia uma viagem em
redor de mim, pois ultimamente tenho-me esquecido de todas as atitudes que me
conseguem transformar numa borboleta, conseguindo a tal força de viver… a tal
que neste momento está em saldo negativo dentro de mim.
Minhas palavras, meus pesares, minha insatisfação
natural, meu grito no silêncio são o tecido que completam o meu miocárdio.
Não adianta uma cirurgia programada, muito menos
de urgência. A minha doença não tem cura, e este sentimento crónico de obsessão
por este desequilíbrio vai fazer com que me refugie cada vez mais, a cada dia
que passa da realidade que me rodeia. Do mundo verídico.
Não posso dizer que já durmo como uma vagabunda,
no caos das minhas ruas sentimentais, mas, se assim continuo a minha solidão
vai ser a minha própria companhia.
Não me adiantará ter brilho nos olhos ou uma pele macia. Tudo acabará… Eu acaberei com
tudo o que ainda me pertence.
Na essência da vida, um dia encontro o fim deste
sabor sentimental anormal, seguindo o escoar do tempo, continuando apenas
assim: sem título para a minha própria viagem.
Chegarei ao ponto de me olhar para o espelho e não
saber distinguir meus traços.
Um artista não começa nem termina a arte… arte é
imortal e inexplicável.
O que cada um de nós é, é arte, e a minha
anormalidade já muito que caiu em desuso. Mesmo assim não ganho coragem de
terminar esta tela, e faço rabiscos por cima de formas definidas deixando tudo
por explicar, tudo por decifrar, tudo por interpretar.
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