Senti-me pedra morta. Farta da rotina sem
esperança, decidi que colocar meus pés numa viagem que supostamente me iria
ajudar, sabendo que todo o retiro é para nos encontrarmos, esquecermo-nos das
coisas que nos atormentam e até de pessoas que nos provocam náuseas no coração arrisquei…Arrisquei e parti. Partir para esquecer, para
recomeçar, para reviver e florescer.Mas…
Mas...
Mas há sempre um “mas” no meio das coisas
supostamente favoráveis…
Sabendo a teoria, eis que não a consigo praticar.
Serei fraca? Teimosa? Ou eu mesma sem conseguir mudar determinados traços?
No ar, onde faço a ponte da mudança suspiro,
dizendo: “É agora, vou conseguir!”.
Assim, esqueço passado, presente e futuro por
breves momentos. Deixo de ser eu até as portas se fecharem.
Mas…
Mas não tarda muito que o passado se torne
novamente o meu maior homónimo.
Rasgo a folha, e reconstruo-a. Queimo-a, mas
guardo as cinzas. Guardo os rascunhos e restos sombrios num baú secreto, mas
ando com a chave presa ao peito, bem ao lado de algo que bombeia meu sangue, de
tal forma a que, se este não for alimentado com o pó que me condena…
simplesmente morre!
Quem sabe na chegada não encontre a esperança que
até hoje não consegui obter.
Mas nem um outro cheiro, nem uma outra terra ou
chuva, nem um outro planeta à minha volta tira a minha cegueira.
Cheiro a terra molhada, a água a correr, luzes ao
fundo definindo a cidade… o tudo e o nada faz com que a minha alquimia volte
ser a tua criança.
E agora? O que posso eu fazer se nem viajar no
espaço me faz mudar todo o meu tempo?!
Encorajo-me para enfrentar a fronteira e o desafio…
mas nunca estou só. Nunca estou sem aquelas memórias de uma estrela a brilhar
bem longe… bem longe de mim! Mas bem dentro de todo o meu corpo e ser.
É por isso que sempre quis voltar no tempo cada
vez que os meus olhos derramaram uma lágrima.
O meu presente é agora um sibaritismo.
Tudo lamento. Até de mim mesma! Por viver neste
fedor protoplasmático… de não conseguir esquecer!!