Quando estava na minha pequena e humilde terrinha
portuguesa questionava a mim mesma o porquê de quase todos os emigrantes serem “chatos”
e darem valor a coisas “ridículas”, quando eram eles que tinham tudo, pois
viviam no mundo das grandes dimensões!
Falavam num tom, como se nada tivessem, e que
Portugal e as pequenas coisas fossem o melhor que eles tinham na vida, sendo
então o pouco tempo dos momentos de férias em que eles se sentiam felizes e
concretizados.
Do pão quente, do peixe, da carne ou das
castanhas e muita outra fruta que eram deliciosos! Eram factos que a mim me
faziam torcer os olhos, fazer cara feia e dizer: “Por favor não exagerem,
porque os bens essenciais devem ser iguais no mundo inteiro!”
Na época de Verão falavam de um Sol especial e
único, chamado o “Sol de Portugal”. Mais uma vez fazia cara feia, expelia todo
o meu ar de forma brusca pela minha boca e pensava: “Sol de Portugal… quem me
dera agora a mim o Sol do Sul de França ou a chuva de Londres... Falam por
falar!”
Era tudo muito, mas mesmo muito irritante e difícil
de aceitar este tipo de comparações de forma justa e racional. Achava que eles
só diziam isso aos “Portugueses” para serem simpáticos ou algo do género… nunca
percebia muito bem.
E então quando via um carro com uma bandeira
enorme de “PORTUGAL”!! Aí instalava-se a
minha grande problemática de não conseguir aceitar este exagero provido do
emigrante Português, achando-o ridículo, rebaixando-se a pormenores que não
interessavam mesmo a ninguém com algum bom senso…
Hoje… hoje estou prestes não só
aceitar o Síndrome de Emigrante como também adiro desde já algum tempo costumes
ou determinadas frases que antes achava ridículo!
Ainda não tenho nenhum carro com
matrícula belga com uma bandeira portuguesa atrás (porque não tenho carro), mas
quando passa um carro identificado como português só me dá vontade de lhe
acenar como se da minha família se tratasse.
Cada vez que vou ao supermercado
e não encontro peixe ou carne com qualidade não me lembro só dos pratos
saborosos de Portugal, como a suculenta comida que cada vez que vou por breves
dias a Portugal digo à mesa: “Isto sim é comido de verdade!” ,comendo com um
prazer que as pessoas devem achar que eu cá passo fome para poupar. Mas a
verdade é que passo fome de “comida boa”, e isso complica-se quando alguém
adora cozinhar e tem de andar à procura de bacalhau ou de bens alimentares
portugueses como se de um achado se tratasse.
O cheiro… é incrível que cada vez
que o meu avião aterra em Portugal, eu sinto um cheirinho bom que faz com que
perca todos os meus sentidos por momentos, e sentindo-me de imediato viva e com
força para ganhar 100 anos de vida!
O ar de Portugal neste momento
dá-me energia sobretudo para ser feliz e dar valor a coisas como a Terra
molhada, o cheiro a seco, o calor do nosso Sol, o sal do nosso Mar, a areia das
nossas praias, o cheiro e o som do campo, e até o frio do Norte que me obriga a
sentar-me à frente da lareira, fazendo uma torrada que só em Portugal sabe
daquele jeitinho. Antes era apenas “mais uma torrada”, hoje é um momento de
prazer.
É ridículo?
Talvez… Mas só quem conhece o
sabor do café português é que desconhece o que realmente é bom… Porque a
primeira vez que tomei um café que não fosse português, a vontade era cuspi-lo
perguntando-me em bom português que raio era aquela coisa!
Só quem sente a ausência desta
qualidade de vida é que vai entender as minhas palavras.
Só quem se aproxima do Natal e
não sabe o que é poder ir á rua e fazer a árvore de Natal Natural poder ouvir
as pessoas falar alto e abraçar os que amamos é que dá valor a estes pequenos
grandes presente de Natal…
Regresso ao dia em que vim para
Bruxelas e comecei trabalhar, e quase todas as pessoas ficavam incrédulas por eu
estar sempre a sorri!
… Hoje passado um ano e quatro meses percebo
que aqui as pessoas não sorriem da alma e eu sorrio cada vez menos.
Não posso dizer que sou infeliz.
Mas não sou feliz como queria.
Hoje queria poder ter o emprego
que tenho aqui, no meu Portugal… e isso senhor Pai Natal, seria o milagre das
prendas do mundo encantado…
Como te amo Portugal…
“AMO-TE PORTUGAL” “Que horror,
pensava eu, como se pode amar um país?”
Hoje interiorizo a síndrome de
emigrante, e tenho muitos tiques, não só no sotaque, mas principalmente no meu
coração…
Esse, estará sempre bem longe
daqui…
“Até breve” …
"Minha gente" ...
PatríciAntão