Era pequena, muito pequena… Uma criança como todas as
outras, que se alimentava de fantasia, sonhos e ilusões.
E como a todas as crianças, os adultos perguntavam o que eu
gostaria se ser quando “fosse grande”, e eu, entre palavras mal conjugadas
respondi imaginando: “Quelo xer enfelmeila: quelu ajudar as pessoas mais
velhinhas e dar picas aos novos!”…
Nunca me esquecendo dessa frase, contornei todos os meus
passos e alimentei todas as minhas etapas da vida para que isso acontecesse.
Prestes entrar na universidade havia enfermeiros
descontentes e falava-se em desemprego, mas eu sempre regi a regra de que não
seria feliz se não fizesse aquilo que amava.
Quando me vi no meu primeiro estágio percebi logo pelo
calafrio, e pelas “borboletas” no meu estômago que era mesmo aquele o amor da
minha vida…
E aí segui a minha aprendizagem com altos e baixos, o “ser
enfermeira, ajudar as pessoas idosas, e dar picas aos novos!” Até já sentia a “tristeza”
de sentir que assustava as crianças que tinham pavor à bata branca!
Pior foi, quando as fitas foram lançadas à fogueira, e estava
prestes sair do mundo de ilusão dos estágios. Não ia ter ninguém ao meu lado
para me conferir se o meu ato era o correto e a minha técnica era bem feita…. Pior
que isso, não tinha emprego! O meu sonho estava prestes a não se realizar.
Deitava-me pensando que não tinha passado disso mesmo: de um
sonho de criança.
Já não havia "picas", já não havia bata branca, já não havia
lugar para mim, o mundo já não precisava do meu praticar enfermagem.
O Mundo não… o meu país!
Tive de fazer a mala e atravessar metade da Europa para ser
aceite como enfermeira, e vestir de novo esta pele que me alimentava, e que
tanto me faz feliz!
Não consigo ser eu sem ser enfermeira!
Estou longe daqueles que amo…
Sinto a minha família envelhecer ao longe, vejo os que
deixei mais pequenos a crescer sem mim, e quando vou à minha própria casa sinto
que já não pertenço ali… Porque abandonei os que amava por aquilo que amo
fazer: ENFERMAGEM!